29.5.02

GOIABADA FILOSÓFICA

Como nem só de goiabada e cerveja ruim vive o homem, de vez em quando eu resolvo gastar meus caraminguás com uma bolacha de chocolate alemã, tão gostosa quanto cara. O mais curioso, porém, é o nome da guloseima*: Choco Leibniz. Será um misto de alusão filosófica e slogan publicitário? Algo do tipo "coma esta bolacha e entre no melhor dos mundos possíveis"?

Penso em acrescentar aos negócios da Goiaba's Enterprises a fabricação de outras bolachas filosoficamente interessantes. Por exemplo: Choco Nietzsche, o eterno retorno do piriri. Ou Choco Kant, a impossibilidade de conhecer a bolacha-em-si. Para acompanhar, latas de Choppenhauer -a cerveja mais amarga do Universo (rapaz, essa vai ser bem pior que a Malt 90...).

* Depois de "outrossim" e "nenhures", muitos posts abaixo, só faltava mesmo escrever "guloseima". Homessa!


AS FRUTAS DA SELEÇÃO

Uma foto na capa da Folha de hoje mostra o técnico da selecinha, Luiz Felipe Pré-Scolari, durante uma corrida ("para tentar emagrecer") nas ruas da cidade de Ulsan. O olhar que ele lança a uma banca cheia de melancias é engraçadíssimo. Creio que, à primeira vista, ele pensou que fossem nabos gigantes coreanos.

A propósito, meu estoque de Malt 90 -quente, "comme il faut"- já está pronto para encarar essa Copa matutina. A provável pior cerveja de todos os tempos é a beberagem ideal para ver o Brasil, digamos, empatar com a Turquia e apanhar da Costa Rica.

27.5.02

COLOMBO ÀS AVESSAS

Vejo que estou precisando, mais uma vez, fazer aquilo que chamo de "equilibrar a balança" do puragoiaba. Então vamos deixar aqui este poema do Guillaume Apollinaire (1880-1918), um dos grandes escritores do modernismo francês. Chama-se "Toujours" e está no livro "Calligrammes", lançado no ano de sua morte. A tradução, tosca como sempre, vai logo abaixo.

Toujours
Nous irons plus loin sans avancer jamais

Et de planète en planète
De nébuleuse en nébuleuse
Le don Juan des mille et trois comètes
Même sans bouger de la terre
Cherche les forces neuves
Et prend au sérieux les fantômes

Et tant d'univers s'oublient
Quels sont les grands oublieurs
Qui donc saura nous faire oublier telle ou telle partie
du monde
Où est le Christophe Colomb à qui l'on devra l'oubli
d'un continent

Perdre
Mais perdre vraiment
Pour laisser place à la trouvaille
Perdre
La vie pour trouver la Victoire


(Sempre/ Iremos mais longe sem avançar jamais// E de planeta em planeta/ De nebulosa em nebulosa/O don Juan dos mil e três cometas/ Mesmo sem se mudar da Terra/ Procura as forças novas/ E leva a sério os fantasmas// E tantos universos se esquecem/ Quem são os grandes esquecedores/ Quem saberá nos fazer esquecer esta ou aquela parte do mundo/ Onde está o Cristóvão Colombo a quem deveremos o esquecimento de um continente// Perder/ Mas perder de verdade/ Para dar lugar ao achado/ Perder/ A vida para encontrar a Vitória)
MARACAS ERÓTICAS

Ah, sim, faltou explicar aquela história da música do Alípio Martins, o Roy Orbison da ilha de Marajó. "Oh, Darcy" é uma espécie de lambada, cuja "graça" está nas intervenções de um corinho feminino. Este repete o tempo todo, supostamente, o título da canção -que soa como "foda-se". A cada "foda-se" (ou "oh, Darcy"), Alípio faz algum comentário: "Não entendi." "Tá fraco, mais alto." "Tem certeza?" "Agora?" Nem é preciso dizer o que nosso amigo deveria fazer com suas maracas. As duas.

25.5.02

BREGA'S BANQUET 40

Pessoal, essa aparição merece um post: eu vi o Dudu França na TV. Está enorme de gordo e parecendo um dono de cantina, daquelas constantemente interditadas pela Vigilância Sanitária. Ah, você não sabe quem é Dudu França? Tentarei refrescar sua memória com um trecho de seu único hit, "Grilo na Cuca":

Grilo na cuca
Minha cabeça é uma bomba atômica
Minha pressão é super-supersônica
Minha cabeça está pegando fogo, fogo, fogo...


E, para agregar valor à coisa toda, ele estava sendo entrevistado pelo Sílvio Brito ("tá todo mundo louco, oba"). Os anos 70 foram mesmo barra-pesada. Cruuuzes.

24.5.02

TERRORISMO ESTÉTICO

Há alguns dias, na época em que eu estava vendo as paraguaias sorridentes a bailar, o caríssimo PMD fez uma referência a Ovelha, o Robert Plant brasileiro -aquele do "uou-uou-iei-iei, sem você não viverei". Consta que o cara está numa pindaíba tão grande que, como protesto contra a falta de pagamento, ele ficou pelado num show. Adivinhem só: imediatamente, choveram convites desses programas de TV que passam à tarde. Todos queriam saber por que o Ovelha tinha tirado a roupa, mas ninguém o deixou cantar. Claro: vai que o rapaz resolve repetir o strip e a audiência desaba. Terrorismo estético tem limite.

(Bem, quem sabe haja mercado para revistas como "B Magazine" e "Playbrega". Admito que a idéia da segunda -por exemplo, com fotos desinibidas da Jayne, só de chapelão e botas- não deixa de ser interessante. Outro bom projeto para a Goiaba's Enterprises.)

23.5.02

CÍRCULO ÍNTIMO DE BÊBADO NÃO TEM DONO

O Grande Tolicionário dos Jornalistas (com maiúsculas, por favor) inclui expressões que são motivo de piada entre eles mesmos. É brincadeira corrente nas redações dizer, por exemplo, que "via de regra" é xoxota e "por outro lado" é sodomia. Com isso, o uso desses clichês tem diminuído bastante. Aliás, o primeiro, até onde sei, é expressamente proibido em revistas femininas.

Apesar disso, não há quem faça certos jornalistas -sobretudo, os que cobrem política- pararem de usar expressões como "círculo íntimo": "Tal informação foi apurada no círculo íntimo do presidente". O jornalismo é mesmo uma atividade insalubre, que tem seu lado proctológico -mas não vamos exagerar, please.

Na verdade, suspeito que a expressão seja adotada por razões muito práticas. Quando é preciso cortar um texto, o "círculo íntimo" vem a calhar. Basta substituí-lo por "cu". Simples, não?
Interessante esse post "page not found", não? Bem mais inspirado que os meus, conciso, quase concretista. Um dia, ainda monto uma instalação na Casa das Rosas: quadros, tapetes, espelhos e assentos de privada com "page not found" escrito em cima.

21.5.02

EXPRESSÕES EXPRESSIVAS

É pena que certas expressões da língua portuguesa tenham caído em desuso e sejam, hoje, mais antigas que o primeiro espartilho da Sarah Bernhardt. Ninguém mais diz "contrair matrimônio", por exemplo -e vocês imaginam algum verbo mais adequado à circunstância? Contrai-se matrimônio, assim como gripe, malária ou toxoplasmose. (Meu amigo empirista Chico Toucinho, aliás, sustenta que a regência do verbo "casar" está erradíssima. Você não se casa com alguém, mas contra alguém.)

Outra expressão de que sinto falta: "protestos de estima e consideração". Ela é fantástica, porque pode ser interpretada de dois modos: 1) É um protesto, mas com chamego. 2) Os dois últimos substantivos nada têm a ver com os reais sentimentos do remetente; então, vamos contrabalançá-los com "protestos". Vejam que modo elegante de subentender uma opinião excessivamente sincera ("estima e consideração o cacete!").

UM CLUBE QUE ME ACEITA COMO SÓCIO?

Pois é, o Spam Zine já foi mais rigoroso na escolha dos seus colaboradores: o especial sobre música (edição 62) começa com uma "Apologia do Karaokê", expelida por este ser goiabal que vos fala. Mas tudo bem: você pode pular meu textículo (ooops) e ler os outros, que estão bem bons. Suspeito que, ali, eu equivalha àquela tosse de um dos Beatles no comecinho do "Revolver".

20.5.02

O HOMEM QUE CAIU NA TERRA

Ainda há alguém aí? Bem, se você é alguém e não tem mesmo nada melhor para ler, admito: estou de volta. A culpa pela minha desaparição, fique o senhor sabendo, foi do neoliberalismo: do FHC, do FMI, da FPF e de outras siglas malvadas e amiguinhas do Roberto Campos. A concorrência predatória e a invasão de goiabices estrangeiras -subsidiadas pelo protecionismo- quase levaram à falência minha lojinha. Com goiabada à farta por todo lugar, quem precisa da padaria do Ruy?

Tentei alternativas de sobrevivência. Não virei o Pedrinho Mattar por pura insuficiência monetária: a casaca de lamê vermelha e o piano de cauda branco são bem mais caros do que eu pensava. Pensei em fundar uma seita, mas parece que todos os caminhos para o Senhor já têm mais de um pedágio instalado. E, ao contrário do que supõem certas redatoras, não recebi um tostão pela revolucionária idéia do ketchup de goiaba. (É mais fácil eu ser triturado e virar matéria-prima do tal ketchup.)

Desolado, enfiei meus pertences numa mala de papelão e me mandei para Pedro Juan Caballero, onde planejava passar o resto dos meus dias ouvindo guarânias e aprendendo a fabricar o inigualável uísque das Highlands paraguaias. Mas eis que, sintonizando as ondas curtas do meu rádio orelhinha, ouvi Alípio Martins, com suas maracas, cantando uma música chamada "Oh, Darcy" (sobre a qual falarei mais tarde). Foi uma iluminação. Era comigo que a voz de xoxota do Alípio estava falando. Mais uma vez, os deuses da cafonice requisitavam meus serviços -e eu, como sempre, não podia fugir ao chamado.

Portanto, aqui estou, com as portas de aço reabertas, um estoque renovado de Malt 90 quente e fartas porções de ovo da casca vermelha e da empada-que-matou-o-guarda. Sejam bem-vindos.

Positivo operante. Houve uma desinteligência, mas o elemento se evadiu. O recinto foi evacuado. Câmbio.
Houston, temos um problema. Descobrimos que esta é uma versão blogueira da Apollo-13. Socorro.
Alô, alô, testando. "This is major Tom to ground control..."

4.5.02

AVISO AOS NAVEGANTES

Sem atualizações por enquanto, moçada. Desculpem: o estoque de bananada de goiaba acabou. Prometo reabrir a padoca assim que as goiabices voltarem aos seus níveis normais. Hasta!

1.5.02

NADA A DECLARAR 3

"Eu quero dizer que o que eu tinha a dizer eu já declarei."

Ulysses Guimarães, em um de seus momentos de particular brilhantismo intelectual. Nada como uma frase assim, bonita e sonora, para coroar esta seqüência de posts.
NADA A DECLARAR 2

Alguns milênios atrás, o Eclesiastes já dizia que não havia nada de novo sob o sol. Do mesmo modo, todas as nossas idéias "originais" devem ter sido pensadas por algum grego, vestindo uma túnica ridícula, há uns 2.000 anos. Ah, e vocês, entusiastas da "revolução blogueira", não me venham com esse papo de que escrever em blog é "novo". No máximo, é só uma nova maneira de sermos tolos, pretensiosos, medíocres, agressivos, mesquinhos ou todas as anteriores. Longa vida a essas nossas qualidades.

(Putz, parece que Tico e Teco voltaram. Tudo isso que eu escrevi aí em cima só pode ser efeito de um porre de Malt 90. A verdade não está no vinho, mas sim na cerveja ruim.)
NADA A DECLARAR

Olá. Tudo bem? À toa neste Dia do Trabalho? Bem, eu e meu cérebro (que saiu agora há pouco para comprar latas de Malt 90 quente) também. Ora -direis-, para quem escreve um blog como o seu, o cérebro não faz falta. E eu vos direi, no entanto: pois é, sabe que não? Eu até me sinto mais leve. Tomara que Tico e Teco, meus dois neurônios, não voltem.