12.3.02

BEETHOVEN E O NIÓBIO

Não estava a fim de começar um papo frankfurtiano -perda da "aura" da obra de arte etc.-, mas, como diria o Falcão, não tem jeito que dê jeito. Hoje, Beethoven é o compositor da musiquinha do gás, Mozart faz a trilha sonora dos comerciais do sabonete Vinólia, "sensível diferença", e Wagner vende desinfetante de privada (o nome era Pato Purific, e a animação mostrava um patinho atacando os germes do vaso ao som da "Cavalgada das Valquírias"). E assim caminha a humanidade.

Eu estava conformado com isso -mas, um dia, ouvi a Quinta Sinfonia do Beethoven sendo usada na propaganda do partido do Enéas ("o número é 56!"). Aquilo era demais. Eu precisava achar uma boa versão do "pam-pam-pam-paaaam", que apagasse de vez aquela barba da minha memória.

Encontrei -e recomendo- a de Carlos Kleiber com a Filarmônica de Viena, gravada em meados da década de 70, num CD que inclui também a Sétima Sinfonia do autor da musiquinha do gás. É tão boa que faz a gente se esquecer do nióbio. Vá ouvir.