1.3.02

A ROSA-DE-NINGUÉM

Putz, estou precisando equilibrar a balança do puragoiaba. Lady Macbeth, por exemplo, já se assustou com o que ela chama de sobrecarga. É natural; hardcore brega é mesmo assustador.

Então, aproveito a ocasião para tentar retribuir o belo poema de Miguel Sanches Neto com que a Leonora me presenteou lá no Persona. Para ela, estes versos do Paul Celan -o original e a tradução em inglês, de Michael Hamburger (sic). Se você não é anglófilo nem germanófilo, paciência: daqui a pouco eu posto uma letra do Odair para você.

Psalm

Niemand knetet uns wieder aus Erde und Lehm,
niemand bespricht unsern Staub.
Niemand.

Gelobt seist du, Niemand.
Dir zulieb wollen
wir blühn.
Dir
entgegen.

Ein Nichts
waren wir, sind wir, werden
wir bleiben, blühend:
die Nichts-, die
Niemandsrose.

Mit
dem Griffel seelenhell,
dem Staubfaden himmelswüst,
der Krone rot
vom Purpurwort, das wir sangen
über, o über
dem Dorn.


Psalm

No one moulds us again out of earth and clay,
no one conjures our dust.
No one.

Praised be your name, no one.
For your sake
we shall flower.
Towards
you.

A nothing
we were, are, shall
remain, flowering:
the nothing-, the
no one's rose.

With
our pistil soul-bright,
with our stamen heaven-ravaged,
our corolla red
with the crimson word which we sang
over, O over
the thorn.