17.4.02

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA GRALHA

Que pena. Finalmente pus as mãos na edição da "Poesia Completa" do Drummond que a editora Nova Aguilar relançou faz pouco. É um livro nos moldes daquelas edições de luxo da "Bibliothèque de la Pléiade": papel-bíblia, assinatura do autor em letras douradas sobre a capa verde-escura e outras mumunhas mais. O catatau tem umas 1.600 páginas, e seu preço não é o que se pode chamar de "popular" (por volta de R$ 170).

Aí você folheia essa "bela viola" e se depara com uma porção de gralhas (erros tipográficos). É um "mas" que vira "ams" aqui, uma vírgula no lugar de uma letra M ali -e, sobretudo, a transformação de "volúvel" em "solúvel" no melhor poema do Drummond (na minha modestíssima opinião), "A Máquina do Mundo". Bom, pode ser que o próprio poeta tenha mudado o verso. Mas, se foi isso, o livro não dá nenhuma indicação.

Outro problema, pelo menos para mim: a "fortuna crítica" que antecede os poemas traz uma série de pedacinhos de artigos sobre o Drummond. É isso mesmo: pedacinhos, bem picados. Uma migalha do Alfredo Bosi, um naco do José Guilherme Merquior, uma fatia do Haroldo de Campos. Que diabo! Custava muito ter feito a obra em dois volumes para publicar os textos completos? Se custava, por que não suprimir os "pedaços" e ficar só com a (boa) introdução do Silviano Santiago?

É uma pena que um livro desses, caro como é e feito para comemorar o centenário de nascimento do itabirano esquivo, tenha sido editado de um modo bem mais descuidado que as antologias anteriores, de apresentação simples. De todo modo, se você estiver abonado e gostar muito do Drumão, não resista a adquiri-lo. Eu não resisti -e, apesar de tudo, não me arrependo.