15.7.02

O VELHINHO "SERIAL KILLER"

Nelson Rodrigues estava certo quando dizia aos jovens: "Envelheçam depressa, antes que seja tarde". A supervalorização do simples fato de ser jovem, de algumas décadas para cá, aumentou exponencialmente a concentração de cretinice por metro quadrado neste planetinha. Muitos crêem que a data de nascimento numa certidão seja, por si só, uma excelsa qualidade e que "novo" seja sinônimo de "melhor" (o que faz da Aids, por exemplo, uma coisa bem "melhor" e mais "muderrrna" do que a gonorréia). No fundo, é compreensível: jovens descerebrados são ótimos consumidores e excelente massa de manobra.

Contra esse estado de coisas, já pensei em escrever um conto, tendo como protagonista um velhinho "serial killer". Um belo dia, ele se cansa de ler Schopenhauer, Ortega y Gasset e Cioran, porque acha que a simples leitura não vai resolver os problemas do mundo -e passa das palavras à ação. Começa a freqüentar assembléias estudantis, shopping centers e shows do Natiruts ("liberdade pra dentro da cabeeeçaaa"...), entre outros lugares insalubres, para seqüestrar jovens cretinos e empalá-los com sua bengala pontiaguda ou sufocá-los com seu fraldão geriátrico (usado, of course). Não pensei ainda no final, mas acho melhor fazer com que isso vire logo ficção -ou, daqui a 30 anos, eu mesmo vou me transformar nesse velhinho.