PIADA & EXEGESE
Para provar, sem dar margem a contestações, que humor é coisa séria, inicio hoje uma nova seção do puragoiaba: "Anedota Comentada ou Piada & Exegese". Reproduziremos aqui piadas de domínio público, com comentários esclarecedores dos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, vivos ou mortos. Os leitores que quiserem enriquecer a fortuna crítica da piada com suas opiniões também podem recorrer ao goiabamail.
1. A piada
O louquinho chamou o diretor do hospício para conversar: "Olhe, acho que eu já estou bom, não preciso ficar mais aqui com vocês. Até escrevi um romance de 500 páginas! Chama-se 'A Grande Cavalgada'". "Um romance? Mas que beleza!", disse o médico, surpreso. "De fato, acho que você já está em condições de ser liberado. Mas gostaria que você me emprestasse esse livro -estou curioso para lê-lo." O louquinho deixou o romance com o diretor e foi-se embora. O médico abriu "A Grande Cavalgada" e começou a ler. Eram 500 páginas de "pocotópocotópocotópocotó".
2. A exegese
* Néscio Pugnetari (copyright de FDR): "Bem, essa piada está equivocada. Evidentemente, não se trata de um 'louquinho', e sim de um romancista de vanguarda -cujo trabalho é, aliás, muito semelhante às "Galáxias" de Haroldo de Campos. Pode-se interpretar o diretor do hospício como uma das tantas figuras míopes do establishment literário brasileiro, essa gente que despreza as vanguardas e não reconhece a genialidade do concretismo. O 'louquinho' da história, assim como Sousândrade, Pedro Kilkerry, Oswald de Andrade e nós, está comendo as pedras da vitória. Difícil mesmo vai ser a hora de descomer".
* Michel Foucault: "Essa piada é mais uma prova da força criativa inerente aos comportamentos ditos loucos ou desviantes, tradicionalmente reprimida pela civilização ocidental. O discurso do louco, que ressoa indefinidamente no vazio, encontra sua perfeita expressão literária num 'pocotó' obsessivo como o fluxo da consciência, tanto mais forte quanto mais censurado".
* José Celso Martinez Corrêa: "'A Grande Cavalgada' é loucura, sim -a sagrada loucura do teatro! É Artaud baixando em seu "cavalo" no terreiro electrocandomblaiko! É o hospício transformado em ágora, com seu diretor convertido em Diónisos e despedaçado pelas bacantes! É... é uma orgya dionysíaca!!!"
* Aracy de Almeida: "Olha aqui, meu filho, tu não tem graça nenhuma contando piada. Tua anedota atravessa e desafina. Mas vou te dar quinhentas pratas, pelo tamanho da goiaba."
* Galvão Bueno: "É, amigo. Isso é puragoiaba. Não tem piada fácil. É o limite extremo do bom gosto!"
Para provar, sem dar margem a contestações, que humor é coisa séria, inicio hoje uma nova seção do puragoiaba: "Anedota Comentada ou Piada & Exegese". Reproduziremos aqui piadas de domínio público, com comentários esclarecedores dos maiores intelectuais do Brasil e do mundo, vivos ou mortos. Os leitores que quiserem enriquecer a fortuna crítica da piada com suas opiniões também podem recorrer ao goiabamail.
1. A piada
O louquinho chamou o diretor do hospício para conversar: "Olhe, acho que eu já estou bom, não preciso ficar mais aqui com vocês. Até escrevi um romance de 500 páginas! Chama-se 'A Grande Cavalgada'". "Um romance? Mas que beleza!", disse o médico, surpreso. "De fato, acho que você já está em condições de ser liberado. Mas gostaria que você me emprestasse esse livro -estou curioso para lê-lo." O louquinho deixou o romance com o diretor e foi-se embora. O médico abriu "A Grande Cavalgada" e começou a ler. Eram 500 páginas de "pocotópocotópocotópocotó".
2. A exegese
* Néscio Pugnetari (copyright de FDR): "Bem, essa piada está equivocada. Evidentemente, não se trata de um 'louquinho', e sim de um romancista de vanguarda -cujo trabalho é, aliás, muito semelhante às "Galáxias" de Haroldo de Campos. Pode-se interpretar o diretor do hospício como uma das tantas figuras míopes do establishment literário brasileiro, essa gente que despreza as vanguardas e não reconhece a genialidade do concretismo. O 'louquinho' da história, assim como Sousândrade, Pedro Kilkerry, Oswald de Andrade e nós, está comendo as pedras da vitória. Difícil mesmo vai ser a hora de descomer".
* Michel Foucault: "Essa piada é mais uma prova da força criativa inerente aos comportamentos ditos loucos ou desviantes, tradicionalmente reprimida pela civilização ocidental. O discurso do louco, que ressoa indefinidamente no vazio, encontra sua perfeita expressão literária num 'pocotó' obsessivo como o fluxo da consciência, tanto mais forte quanto mais censurado".
* José Celso Martinez Corrêa: "'A Grande Cavalgada' é loucura, sim -a sagrada loucura do teatro! É Artaud baixando em seu "cavalo" no terreiro electrocandomblaiko! É o hospício transformado em ágora, com seu diretor convertido em Diónisos e despedaçado pelas bacantes! É... é uma orgya dionysíaca!!!"
* Aracy de Almeida: "Olha aqui, meu filho, tu não tem graça nenhuma contando piada. Tua anedota atravessa e desafina. Mas vou te dar quinhentas pratas, pelo tamanho da goiaba."
* Galvão Bueno: "É, amigo. Isso é puragoiaba. Não tem piada fácil. É o limite extremo do bom gosto!"
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