3.2.05

Arte e ciência da escalação de elenco

Quantas vezes você, cinéfilo, não imaginou que um filme seria melhor ou menos ruim se Fulano ou Sicrana estivessem no elenco? Em inglês, como vocês devem saber, há um termo exemplarmente conciso para a má escalação de atores, que é miscasting. No cinema nacional, o maior exemplo de que tenho conhecimento é um filme chamado "O Mulherengo", com Edwin Luisi no papel-título. Fora do Brasil, há "O Vento Será Tua Herança" ("Inherit the Wind"), dirigido por Stanley Kramer em 1960. É a história do julgamento, em 1925, de um professor de ciências acusado do crime de ensinar as teorias de Darwin, que foi celebrizada por uma série de reportagens de H.L.Mencken. No filme, o personagem inspirado em Mencken é interpretado por Gene Kelly, embora ninguém que conheça os escritos do jornalista jamais tenha conseguido imaginá-lo sapateando ou cantando na chuva.

Zanzando pelo site Internet Movie Database, topei com um caso ainda mais interessante: uma versão cinematográfica d'"A Montanha Mágica", do Thomas Mann, com Charles Aznavour no papel de Naphta. Pois é, Aznavour, com aquela cara de Renato Aragão armênio. Pena que ninguém tenha tido a idéia de filmar "Os Trapalhões na Montanha Mágica", com Zacarias como Hans Castorp, Dedé Santana como Settembrini e Mussum, travestido e de peruca loira, como Clawdia Chauchat. No fundo, miscasting é só uma questão de pequenos ajustes: no filme do Gene Kelly, bastaria substituir Spencer Tracy, no papel do advogado, por Fred Astaire e fazê-lo convencer o júri com um brilhante número de sapateado.