14.12.01

RUY GOIABA'S LONELY HEARTS CLUB BAND 3

Alongado no leito, e a noite silenciosa,
Mal eu cansados olhos ao repouso dava
Quando o cruel Amor me agarra p'los cabelos,
Me acorda e manda que em sua honra eu vele.
"Ó escravo meu, me diz, ó tu que a mil amaste,
Sózinho jazes só, ó duro peito, aqui?"
Descalço e seminu, atiro me pra fora,
Pelos caminhos vou sem que caminho encontre.
E sigo sempre, e paro, e no parar hesito
Entre a vergonha de ir e o tédio de voltar.
Calam-se humanas vozes e da rua os ruídos,
Ave nenhuma canta, sequer ladram cães.
De tudo, apenas eu me atrevo a estar desperto,
Obedecendo ao império, Grande Amor, de ti.


Do poeta latino Caio Petrônio "Árbitro" (20-66 d.C.). A tradução é do português Jorge de Sena, o que explica o "p'los cabelos" do terceiro verso.