18.3.02

SOLTE O TIMÓTEO

Num dos primeiros posts do puragoiaba, ameacei (esse é o termo) expor minha teoria psicanalítica do brega. No fundo, ela é simples: por mais que nossa dieta cultural consista em filosofia alemã, filmes do Bergman e sonatas do Brahms, nosso id será sempre algo terrivelmente parecido com o Agnaldo Timóteo.

Bem, em nome da "civilização", é preciso policiar o Timóteo que há em nós. O que seria da nossa vida amorosa se aquela moça culta e fã do cinema iraniano nos pegasse cantando "quem ééé que não sooofre por aaalguééém"? Fim de jogo, aos cinco minutos do primeiro tempo. Nunca mais conseguiríamos nos reproduzir, e os dias da espécie humana sobre a Terra estariam contados. Para preservar a sociedade, alguma repressão é necessária.

Na indústria cultural, contudo, não há nada parecido com um superego. Pensem comigo: gravar um CD, por exemplo, é um processo complicado e caro, que tem várias etapas. Há alguém que compõe, alguém que canta, músicos que acompanham o cantor, arranjadores (ou desarranjadores), produtores, engenheiros de som etc. -até a fábrica que prensa e embala os CDs e as lojas que vendem. É um batalhão de gente envolvida.

Será possível que, em todo esse processo, não haja ninguém que caia em si e o interrompa ("PAREM TUDO! Isso é um lixo! A humanidade NÃO DEVE tomar conhecimento dessa música!")?

Não, não há. E, pensando bem, isso é bom. Reprimir demais a cafonice tornaria o mal-estar na civilização ainda mais agudo.

Portanto, não seja um brega enrustido: solte o Timóteo. Mas certifique-se de que ninguém esteja olhando.