16.12.03

Homer's here, there and everywhere

É impressionante como ninguém se dá conta do quanto Homero, o Mr. Magoo da Grécia Antiga, influencia até hoje a cultura ocidental. Citamos esse poeta o tempo todo e não percebemos. Peguem, por exemplo, na música popular, "Georgia On My Mind". É óbvio que seu compositor, Hoagy Carmichael, não quis falar daquele Estado no sul dos Euá, mas de Ítaca -tanto que seu principal intérprete, Ray Charles, ora vejam, é cego como Homero. Da mesma forma, “Volta”, de Lupicínio Rodrigues, mais conhecida na interpretação de Gal Costa, é uma espécie de monólogo de Penélope -e “Como Vai Você”, de Antônio Marcos, é a resposta de um Ulisses saudoso dos braços da amada ("vem, que a sede de te amar me faz melhor/ eu quero amanhecer ao seu redooor...").

E há exemplos ainda mais eloqüentes. Toda vez que você vê um quebra-pau no Ratinho, está presenciando uma reencenação da Guerra de Tróia -aquelas mulheres que aparecem no programa dizendo “toma que o filho é teu” e querendo fazer teste de DNA são, afinal, um presente de grego. Idem para as novelas do Manoel Carlos: por que vocês acham que ele sempre inclui uma personagem chamada Helena, se não com o evidente propósito de remeter a Tróia? Mas a obra em que a influência homérica se manifesta de modo mais contundente é a canção infantil “Atirei o pau no gato”. Poucos sabem que sua versão original tem mais de 2.500 anos e se chama “Atirei o pau no Pátroclo”; nela, foi seu Aquiles que se admirou com o berrô, com o berrô que o grego deu.