9.12.03

João Gilberto fez a cobra subir

Não entendo como, nos 45 anos de carreira de João Gilberto, ainda não apareceu um único estudo sobre as inúmeras referências à fodelança em suas músicas. São menções cifradas, mas suficientes para que o bossa-novista mereça o título de maior tarado da emepebê -uma espécie de Pietro Aretino com sotaque baiano e acordes dissonantes. Nunca ninguém se perguntou, por exemplo, o que ele queria dizer com "só bim-bom, bim-bom, bim-bim"; hoje está claro que essa é uma representação onomatopaica do ato de molhar o biscoito (isto é, "bimbar"). Do mesmo modo, consta que, na Juazeiro dos anos 40, "ho-ba-la-lá" designava aquilo que viria a ser conhecido como "ipsilone duplo" nas novelas do Aguinaldo Silva ("vamos fazer um ho-ba-la-lá gostosinho, minha nega?").

E os exemplos pululam. Em "Desafinado", João, nada modesto, apresenta-se como um John C. Holmes da bossa nova: não só canta "ele é o maior que você pode encontrar, viu?" como faz gestos para dar idéia do tamanho da coisa. "O Pato", historinha aparentemente inocente (qüem-qüem), descreve nada menos que uma suruba nervosa na lagoa. E, num de seus primeiros discos, o tarado de Juazeiro gravou a música "Trenzinho", cujo título dispensa comentários. Faz sentido que seu próximo CD inclua versões bossa-novistas de "Rala o Pinto" e "Carrinho de Mão". Aguardemos.