2.12.03

Elvis é o Leviatã

Há pouco, eu e alguns amigos, numa discussão iniciada pelo beckettiano e continuada pelo fileleno, especulávamos sobre o momento exato do declínio do Ocidente*. Há quem ache, como o bigodudo malucão, que a coisa começou a degringolar no reinado de Constantino. Outros apontam como culpados a Reforma, a Revolução Francesa, a Primeira Guerra Mundial, a queda do Muro de Berlim. Nada disso: o Ocidente desmoronou no dia e na hora em que Elvis Presley cantou "Hound Dog", acompanhado por um cachorro, na TV americana. Muitos que assistiam ao programa ouviram um ruído estranho, erroneamente atribuído à música apresentada ou a problemas na transmissão. Ninguém se deu conta, mas era o som da civilização ocidental desabando -not with a bang but a whimper. Em verdade vos digo: todas as referências ao Leviatã são visões proféticas de Elvis, gordo e de costeletas, cantando num cassino em Las Vegas. Todos os monstros japoneses, Godzilla e seus primos, poderiam ser resumidos em um Elvis gigante caminhando sobre Tóquio. E há quem ache que, quando o Apocalipse cita aquele grande dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, é do Rei do Roque que está falando. Mas, até agora, não tive coragem de girar ao contrário o vinil com "Love Me Tender" e ver se ele traz mesmo as tais mensagens ocultas.

* A bonita foto do pingüim cover de hoje, o ex-Joãozinho Podre John Lydon, visa ilustrar da maneira mais didática possível o que entendo por declínio do Ocidente. We're the future, your future.