23.11.03

PARA DAR UM FIM À NOITE DE AUTÓGRAFOS

A noite de autógrafos é a invenção mais hedionda do Ocidente desde a empalação -e há quem sustente que a segunda oferece um suplício menor e mais rápido. Consiste em um grupo de imbecis pretensamente letrados que, não contentes em adquirir o livro de um cretino ainda maior, acham que a obra valerá mais se for assinada (às vezes, o objetivo é verificar se o cretino-autor sabe ao menos escrever o próprio nome. Na maioria dos casos, não sabe). Tudo isso regado a muito vinho-alemão-da-garrafa-azul em copinhos de plástico. É a própria expressão da hediondez.

Destarte -desculpem, eu estava louco para escrever "destarte" num post-, proponho que a instituição "noite de autógrafos" seja abolida, exceto nos casos em que a obra não exista. Aí, sim, faz sentido autografar guardanapos de papel e braços engessados -se for possível quebrar alguns braços para engessá-los e depois autografá-los, melhor ainda. Mas, se você é um desgraçado que teve a infeliz idéia de pôr mais um livro horrível num mundo já repleto deles, sugiro uma destas três opções: 1) Contrate o bufê dos Confeiteiros Sem Fronteiras e promova uma noite de tortadas na cara do autor. Cada livro adquirido dá direito a uma tortada; quem comprar mais de um poderá puxar o autor pelos cabelos, com força, e enfiar sua cabeça num delicioso bolo de marshmallow. 2) Institua a "noite da pegadinha literária". Os convidados devem fazer fila diante do autor, que estará de braguilha aberta. Cada livro dá direito a uma pegadinha na benga; chacoalhadinha, só para quem comprar vários exemplares e/ou tiver as mãos macias. 3) Construa um labirinto para os convidados. Quem quiser chegar aos livros, aos canapés ou ao vinho terá de descobrir o caminho que leva ao centro e, uma vez lá, deixar-se lamber pelo Zé Celso durante três minutos e 47 segundos. Quem negará que tudo isso é muito menos horripilante que uma noite de autógrafos?