18.11.03

CONCERTOS PARA A JUMENTUDE

Eu achava que Gerald Thomas, o lorde Bundinha, era um idiota por acreditar que o prelúdio de "Tristão e Isolda" precisava ser ilustrado por uma mulher se masturbando. Pensava que Thomas tratava o público à sua imagem e semelhança, como audioanalfabeto funcional -gente que não sabe ouvir e faz questão de que a música lhe seja explicada por meio de figurinhas.

Mas o lorde Bundinha sabe das coisas: a maioria das pessoas é mesmo audioanalfabeta funcional. E Robertão, há trinta anos, já dizia que todos estavam surdos ("Lá, lalalalalá-lá, lalá-lalá, lalalalá, l-lalá-l-lá-l-lalala." Sempre achei essa uma de suas letras mais expressivas). Para mim, ficou claríssimo que a música dita erudita* vai estrebuchar e morrer se não for traduzida em imagens.

* POEMA CONCRETO INCIDENTAL (à moda do Radá)

dita
erudita
eros-dita
desditadura

Sendo assim, começo por oferecer gratuitamente duas propostas de vanguarda a diretores de orquestra que não tenham medo de ousar. 1) Uma encenação dos "melhores momentos" da 3ª Sinfonia de Beethoven, a "Heróica", com um ator representando Napoleão -de chapéu- em pleno fuquefuque com a imperatriz Josefina e gritando "allons, enfants de la patrie!" na hora do clímax. Sem isso, é impossível entender o que o Surdinho queria dizer quando compôs. 2) Da mesma forma, "A Sagração da Primavera" só será plenamente compreendida quando sua encenação incluir os dois caras do Pet Shop Boys dançando pelados. Acho que o Neil Tennant topa até sem cobrar cachê, for the sheer pleasure of it. Ui!