14.11.03

PETIT JEAN TRENTE E O ANCIEN RÉGIME

Meu caro Bruno Garschagen, num ótimo post, explicita seu horror ao Carnaval. Com isso, ele se inscreve na tradição jacobina -afinal, como se sabe, o objetivo da Revolução Francesa era acabar com o baticum da nobreza. Os carnavalescos, por exemplo, surgiram no Ancien Régime e eram responsáveis pelas roupas, alegorias e adereços do Palácio de Versalhes. Diz-se que Luís XVI empregava uns 600, todos com a boca torta (inclusive um antepassado do Clóvis Bornay, que foi dos poucos a escapar da guilhotina). Fontes fidedignas asseguram, ainda, que aquela iniciativa de mudar o calendário e chamar os meses de Brumário, Messidor, Frutidor etc. foi para que os foliões não soubessem mais quando era fevereiro e parassem de pentelhar a nação com essa história de Carnaval.

Não adiantou nada. O populacho, que gostava de luxo (nas sábias palavras de Petit Jean Trente), continuou cantando “A Cabeleira do Danton” (“corta a cabeça dele, uh-uh, corta a cabeça dele”) e entoando o grito de guerra “ê-ô, ê-ô, Robespierre é o Terror”. E, como prova o quadro “A Liberdade Conduzindo o Povo”, do Delacroix, porta-estandartes com os peitos à mostra continuaram desfilando pelas ruas de Paris. De lá pra cá, é certo, só piorou: naquele tempo, pelo menos, não existiam carros alegóricos com o Miguel Falabella em cima gritando "le jour de gloire est arrivé!".