5.11.03

Ê-Ô, Ê-Ô, BODELÉR É O TERROR

"Tornar-se um homem útil sempre me pareceu algo de muito detestável." "É preciso trabalhar, e se não for por gosto pelo menos por desespero; até porque, bem vistas as coisas, trabalhar é menos tedioso do que se divertir." "Não se deve pensar que o Diabo só tenta as pessoas de gênio. Não há dúvidas de que ele despreza os imbecis, mas não desdenha os seus serviços. Pelo contrário, deposita grandes esperanças em sua ajuda." "O poeta, o padre e o soldado são a única coisa que ainda há de grandioso entre os homens: o homem que entoa o seu canto, o que abençoa, o que sacrifica e se sacrifica. O resto é feito para o chicote." "Desconfiar sempre do povo, do bom senso, do sentimento, da inspiração e das coisas evidentes." "Sempre me admirei que deixassem entrar as mulheres nas igrejas. Que diálogo é que elas poderão estabelecer com Deus?" "Quanto mais um indivíduo cultiva as artes, menos trepa. Acentua-se o divórcio entre o espírito e a bestialidade. Só o bruto trepa bem: a trepada é o lirismo do povo."

(Todos esses são fragmentos de "Meu Coração a Nu" ("Mon Coeur Mis à Nu"), publicado em 1887, 20 anos após a morte de Bodelér. A tradução é de Fernando Guerreiro, para a edição da Nova Aguilar.)