NO MUNDO DAS BROAS DE MILHO TRANSGÊNICAS
Eu venho de um mundo em que os professores universitários escrevem livros com títulos como "Anabasis Glauber". Pensei que esse fosse o nome de um filme experimental do início dos anos 70, aquela coisa esquisita que nascia do encontro entre gente subnutrida, sem iodo na alimentação, e uma vontade louca de "quebrar a linearidade do discurso". Imaginei Glauber -ou um sósia dele- andando em círculos numa sala fechada, com a câmera fixa. Ele entra e sai do foco, puxa os cabelos, gesticula, grita algo sobre o Terceiro Mundo. Às vezes pára e coça a bunda. Ou mostra uma foto de Marilyn Monroe pelada enquanto recita trechos do Livro Vermelho de Mao. Ou faz qualquer outra coisa inteligente.
(Logo descobri que eu estava, como diria o Millôr, "roundly mistaken": quando um fã do Cinema Novo encontra outro no Espaço Unibanco, eles se cumprimentam dizendo "anabasis Glauber!" e fazendo com a mão aquele sinal do sr. Spock. Depois vão de mãozinhas dadas assistir à última película do Bressane.)
No mundo de onde eu vim, escritores lançam revistas de poesia "pós-utópicas" em CD-ROM e dizem que sua intenção é "provocar a linguagem". Dona Linguagem, que não gosta de provocações, mandou dizer que não estava, mas sua paciência é curta: mais um pouco e ela remeterá os pós-utópicos à pós-puta-que-os-pariu. Enquanto isso não acontece, penso em enviar aos editores do CD minha obra-prima CÚ, que resume e transcende o concretismo. Digitalmente retrabalhada, com animações em flash y otras cositas, ela pode fazer mais sucesso que o tal vídeo da Paris Hilton.
Eu venho de um mundo em que os professores universitários escrevem livros com títulos como "Anabasis Glauber". Pensei que esse fosse o nome de um filme experimental do início dos anos 70, aquela coisa esquisita que nascia do encontro entre gente subnutrida, sem iodo na alimentação, e uma vontade louca de "quebrar a linearidade do discurso". Imaginei Glauber -ou um sósia dele- andando em círculos numa sala fechada, com a câmera fixa. Ele entra e sai do foco, puxa os cabelos, gesticula, grita algo sobre o Terceiro Mundo. Às vezes pára e coça a bunda. Ou mostra uma foto de Marilyn Monroe pelada enquanto recita trechos do Livro Vermelho de Mao. Ou faz qualquer outra coisa inteligente.
(Logo descobri que eu estava, como diria o Millôr, "roundly mistaken": quando um fã do Cinema Novo encontra outro no Espaço Unibanco, eles se cumprimentam dizendo "anabasis Glauber!" e fazendo com a mão aquele sinal do sr. Spock. Depois vão de mãozinhas dadas assistir à última película do Bressane.)
No mundo de onde eu vim, escritores lançam revistas de poesia "pós-utópicas" em CD-ROM e dizem que sua intenção é "provocar a linguagem". Dona Linguagem, que não gosta de provocações, mandou dizer que não estava, mas sua paciência é curta: mais um pouco e ela remeterá os pós-utópicos à pós-puta-que-os-pariu. Enquanto isso não acontece, penso em enviar aos editores do CD minha obra-prima CÚ, que resume e transcende o concretismo. Digitalmente retrabalhada, com animações em flash y otras cositas, ela pode fazer mais sucesso que o tal vídeo da Paris Hilton.
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