E, já que eu e Leonora citamos Ivo Barroso e Alexei Bueno, vamos a uma intersecção: "O Corvo e suas Traduções".
Esse livro (organizado por Barroso e lançado em 1998) inclui -é claro- o "Raven" original, do Poe (que você pode ler aqui), as versões em prosa de Baudelaire e Mallarmé e várias traduções para o português. Estas começam pela do Machado de Assis (que importou alguns erros do Baudelaire) e terminam pela do Alexei, que é a mais recente.
"O Corvo" do Alexei Bueno, de fato, supera o do Fernando Pessoa em muitos pontos. Mas eu concordo com a opinião do Ivo Barroso (e do Carlos Heitor Cony, que fez a apresentação do livro): a melhor versão em português é a do mineiro Milton Amado, que também foi um grande tradutor do La Fontaine e passou a vida escondido na província (sorry, mineiros). Confiram duas estrofes, a primeira e a sétima:
Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém -fiquei a murmurar- que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais."
(...)
Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
-é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto -uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.
Enfim, os leitores que julguem. E, se virem esse livro dando sopa, comprem. Vale o investimento.
Esse livro (organizado por Barroso e lançado em 1998) inclui -é claro- o "Raven" original, do Poe (que você pode ler aqui), as versões em prosa de Baudelaire e Mallarmé e várias traduções para o português. Estas começam pela do Machado de Assis (que importou alguns erros do Baudelaire) e terminam pela do Alexei, que é a mais recente.
"O Corvo" do Alexei Bueno, de fato, supera o do Fernando Pessoa em muitos pontos. Mas eu concordo com a opinião do Ivo Barroso (e do Carlos Heitor Cony, que fez a apresentação do livro): a melhor versão em português é a do mineiro Milton Amado, que também foi um grande tradutor do La Fontaine e passou a vida escondido na província (sorry, mineiros). Confiram duas estrofes, a primeira e a sétima:
Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,
a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,
e exausto, quase adormecido, ouvi de súbito um ruído,
tal qual se houvesse alguém batido à minha porta, devagar.
"É alguém -fiquei a murmurar- que bate à porta, devagar;
sim, é só isso e nada mais."
(...)
Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto:
-é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais.
Como um fidalgo passa, augusto, e sem notar sequer meu susto,
adeja e pousa sobre o busto -uma escultura de Minerva,
bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Minerva,
empoleirado e nada mais.
Enfim, os leitores que julguem. E, se virem esse livro dando sopa, comprem. Vale o investimento.
<< Home