TOLICIONÁRIOS
Flaubert morreu em 1880, antes de terminar "Bouvard e Pécuchet". Ele planejava anexar à obra o que chamou de "sottisier" ("tolicionário"): o "Dicionário das Idéias Feitas". É uma coleção de clichês, que recomenda só escrever "ereção" em referências a monumentos, dizer que a lua "inspira a melancolia" etc. Algumas edições do romance o incluem.
Já pensei, várias vezes, em compilar alguns "tolicionários", divididos por áreas. Eles facilitariam enormemente a vida de certos jornalistas. Quem escreve sobre música, por exemplo, poderia usar "bombardeio megadecibélico" nas referências a qualquer grupo de thrash metal, ou dizer que o som da banda X é "uma verdadeira orgia de ritmos afro-caribenhos" (contra-senso, já que se trata, afinal, de uma falsa orgia).
Na cobertura de futebol, talvez nem fosse necessário: todo time tem pelo menos um "ponta ciscador", um "centroavante oportunista" e um "meio-campista cerebral". Supõe-se, no último caso, que os outros jogadores deixem o cérebro no vestiário antes de entrar em campo. Bem, talvez não esteja tão errado assim.
Flaubert morreu em 1880, antes de terminar "Bouvard e Pécuchet". Ele planejava anexar à obra o que chamou de "sottisier" ("tolicionário"): o "Dicionário das Idéias Feitas". É uma coleção de clichês, que recomenda só escrever "ereção" em referências a monumentos, dizer que a lua "inspira a melancolia" etc. Algumas edições do romance o incluem.
Já pensei, várias vezes, em compilar alguns "tolicionários", divididos por áreas. Eles facilitariam enormemente a vida de certos jornalistas. Quem escreve sobre música, por exemplo, poderia usar "bombardeio megadecibélico" nas referências a qualquer grupo de thrash metal, ou dizer que o som da banda X é "uma verdadeira orgia de ritmos afro-caribenhos" (contra-senso, já que se trata, afinal, de uma falsa orgia).
Na cobertura de futebol, talvez nem fosse necessário: todo time tem pelo menos um "ponta ciscador", um "centroavante oportunista" e um "meio-campista cerebral". Supõe-se, no último caso, que os outros jogadores deixem o cérebro no vestiário antes de entrar em campo. Bem, talvez não esteja tão errado assim.
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