PEQUENA ANTOLOGIA GOIABAL 21
Octavio Paz (1914-1998)
"Rimbaud disse: Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir. Fusão de ver e crer. Na conjunção destas duas palavras está o segredo da poesia e dos seus testemunhos: aquilo que o poema nos mostra não o vemos com nossos olhos de carne, mas com os do espírito. A poesia faz-nos tocar o impalpável e escutar a maré do silêncio cobrindo uma paisagem devastada pela insônia. O testemunho poético revela-nos outro mundo dentro deste mundo, o mundo outro que é este mundo. Os sentidos, sem perder os seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e fazem-nos ouvir o inaudito e ver o que é imperceptível. Não é isto, além do mais, o que acontece no sonho e no encontro erótico? Tanto ao sonhar como no acasalamento, abraçamos fantasmas. O nosso par tem rosto, corpo e nome, mas a sua realidade real, precisamente no momento mais intenso do abraço, dispersa-se numa cascata de sensações que, por sua vez, se dissipam. Há uma pergunta que a si próprios fazem todos os enamorados, e nela condensa-se o mistério erótico: quem és? Pergunta sem resposta."
(Trecho de "A Chama Dupla - Amor e Erotismo", 1993. )
Octavio Paz (1914-1998)
"Rimbaud disse: Et j'ai vu quelquefois ce que l'homme a cru voir. Fusão de ver e crer. Na conjunção destas duas palavras está o segredo da poesia e dos seus testemunhos: aquilo que o poema nos mostra não o vemos com nossos olhos de carne, mas com os do espírito. A poesia faz-nos tocar o impalpável e escutar a maré do silêncio cobrindo uma paisagem devastada pela insônia. O testemunho poético revela-nos outro mundo dentro deste mundo, o mundo outro que é este mundo. Os sentidos, sem perder os seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e fazem-nos ouvir o inaudito e ver o que é imperceptível. Não é isto, além do mais, o que acontece no sonho e no encontro erótico? Tanto ao sonhar como no acasalamento, abraçamos fantasmas. O nosso par tem rosto, corpo e nome, mas a sua realidade real, precisamente no momento mais intenso do abraço, dispersa-se numa cascata de sensações que, por sua vez, se dissipam. Há uma pergunta que a si próprios fazem todos os enamorados, e nela condensa-se o mistério erótico: quem és? Pergunta sem resposta."
(Trecho de "A Chama Dupla - Amor e Erotismo", 1993. )
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