21.11.02

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE RUY GOIABA

Sumi nos últimos dias porque, entediado com os événements, fiquei batendo um longo papo com Brás Cubas. Ele, por sua vez, estava cansado de estudar a geologia dos campos-santos -para usar a expressão do Bentinho- e me recebeu cordialmente. Aproveitando que estávamos à vontade, como dois velhos amigos, perguntei-lhe se poderia tomar emprestada uma ou outra linha do romance para meu diário (achei que seria assaz cacete explicar ao Brás o que eram weblogs). Algo assim: "A gente grave achará neste blog umas aparências de pura tolice, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu blog usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião". O Brás deu de ombros e, como eu já esperava, respondeu: "Meu caro Goiaba, não há nada tão incomensurável como o desdém dos mortos. Paulo Francis que o diga". De repente, notei que o próprio Francis estava ali por perto, mas tão embevecido ouvindo Georg Solti reger Wagner que não tive coragem de interromper. Compreendi plenamente o desdém e voltei pra esta chatíssima vidinha do inframundo.