PEQUENA ANTOLOGIA GOIABAL
Denis de Rougemont (1906-1985)
"Todos nós, herdeiros do século XIX, somos mais ou menos materialistas. Se nos mostram rudimentos de fatos 'espirituais' na natureza ou no instinto, logo julgamos possuir uma explicação para esses fatos. O mais baixo parece-nos o mais verdadeiro. É a superstição do tempo, a mania de 'reduzir' o sublime ao ínfimo, o estranho erro que toma por causa suficiente uma condição simplesmente necessária. É também o chamado escrúpulo científico, do qual precisamos para libertar o espírito das ilusões espiritualistas. Mas não consigo compreender o interesse de uma libertação que consiste em 'explicar' Dostoiévski pela epilepsia e Nietzsche pela sífilis. Curiosa maneira de libertar o espírito, essa que se 'reduz' a negá-lo."
(Trecho de "História do Amor no Ocidente", escrito em 1938 e revisto em 1956. Nesse livro, Rougemont aponta como origem do "imaginário da paixão" a poesia provençal do século XII e faz um paralelo, sempre discutível, entre essa literatura e a heresia cátara. Há edição nacional recente e gloriosamente cafona, da Ediouro -os caras conseguiram superar até aquela caixa do Proust cujo padrão gráfico era semelhante ao de uma embalagem de Vinólia. Mas leiam, leiam. Para mim, só o trecho acima já valeu a aquisição.)
Denis de Rougemont (1906-1985)
"Todos nós, herdeiros do século XIX, somos mais ou menos materialistas. Se nos mostram rudimentos de fatos 'espirituais' na natureza ou no instinto, logo julgamos possuir uma explicação para esses fatos. O mais baixo parece-nos o mais verdadeiro. É a superstição do tempo, a mania de 'reduzir' o sublime ao ínfimo, o estranho erro que toma por causa suficiente uma condição simplesmente necessária. É também o chamado escrúpulo científico, do qual precisamos para libertar o espírito das ilusões espiritualistas. Mas não consigo compreender o interesse de uma libertação que consiste em 'explicar' Dostoiévski pela epilepsia e Nietzsche pela sífilis. Curiosa maneira de libertar o espírito, essa que se 'reduz' a negá-lo."
(Trecho de "História do Amor no Ocidente", escrito em 1938 e revisto em 1956. Nesse livro, Rougemont aponta como origem do "imaginário da paixão" a poesia provençal do século XII e faz um paralelo, sempre discutível, entre essa literatura e a heresia cátara. Há edição nacional recente e gloriosamente cafona, da Ediouro -os caras conseguiram superar até aquela caixa do Proust cujo padrão gráfico era semelhante ao de uma embalagem de Vinólia. Mas leiam, leiam. Para mim, só o trecho acima já valeu a aquisição.)
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