30.9.03

SANTAS SALAMANDRAS, BATMAN!

Comprei faz pouco e estou começando a ler a "Legenda Áurea", de Jacopo de Varazze -talvez o mais conhecido relato sobre as vidas de santos, escrito no século 13 e lançado recentemente pela Companhia das Letras, em tradução de Hilário Franco Júnior. Em verdade vos digo: é um barato. Tem mais sex and violence que qualquer filme do Tarantino e um monte de ótimas sugestões para nomes de crianças (se bem que meu filho desistiria de nascer se apenas desconfiasse que eu pretendo batizá-lo como Pancrácio).

Uma coisa de que poucos se dão conta -e o livro deixa clara- é a importância social dos santos. Quando não havia saneamento, distribuição de cesta básica ou programas de renda mínima, o povo se lascava se não houvesse um santo à mão para multiplicar pães e peixes. Veja-se o que diz a "Legenda" sobre uma das interpretações para os presentes dos Reis Magos a Jesus: "Eles ofereceram ouro à bem-aventurada Virgem para aliviar sua miséria, incenso para afastar a fetidez do estábulo, mirra para fortalecer os membros do menino e para expulsar insetos hediondos". Há outras explicações mais poéticas, mas essa comprova que os Magos eram, simultaneamente, o Fome Zero e a D.D. Drin daqueles tempos remotos. Como pode haver gente que não crê nessas coisas, mas acredita no Pereio? Francamente.