24.9.03

O MUSEU DAS GÍRIAS

Pouca gente sabe, mas existe um museu para onde são levadas as gírias e expressões que ninguém mais usa na fala cotidiana. Sem subsídio de governo algum, ele é sustentado unicamente pelo amor da sua idealizadora, a senhora Hypotenusa Pereira, por palavras injustamente relegadas à lata de lixo do vernáculo, como "boko-moko". Na última vez em que estive lá, dona Hypotenusa me mostrava justamente um deles. "Olhe só, meu filho. Encontrei esse 'boko-moko' embrulhadinho na soleira da minha porta, todo tremendo de frio, coitado. Cuidei dele com muito carinho, elixir paregórico e emulsão de Scott. Ele ficou forte e pimpão; agora, passa o dia todo brincando com o 'tranchã' e o 'vivaldino'."

Aproveitei para perguntar: "Quem são os principais visitantes do seu museu, dona Hypotenusa?". "Ah, os dicionaristas. Às vezes aparece gente de televisão, sobretudo quando se faz alguma adaptação do Nelson Rodrigues. Eles sabem que só aqui encontram 'espeto', 'batata' e 'pitéu' em ótimo estado de conservação." Eu mesmo já recorri ao museu numa vez em que peguei emprestada a expressão "da paróquia" para uma historinha que não deu muito certo ("a mulher do padre, a última a chegar, foi queixar-se ao bispo; o bispo ouviu a queixa e achou que aquilo era a maior sacanagem da paróquia". Riam, por favor). Se você quer ajudar o museu da dona Hypotenusa a sobreviver, aproveite a riqueza que ele oferece. Por exemplo, dizendo que este blog é do balacobaco. ;)