19.10.04

Fundo Estadual de Fomento à Rebeldia

Artistas abrem o berreiro pela implantação de um fundo que "prevê o fomento anual de R$ 100 milhões para áreas como hip hop, cinema, música, dança, circo, teatro, artes plásticas etc., numa parceria do Estado com as prefeituras". É bonito ver uma coisa dessas: toda a rebeldia dos mano do hip-hop, para ficar em apenas um dos exemplos, subsidiada pelo dinheiro que o governo tunga de mim e de você, leitor hipócrita, todo mês (tunga feita na fonte, comme il faut, que elisão fiscal é para sonegadores chiques).

Que não se veja nem sombra de ironia aqui: creio sinceramente que o Zé Faminto que trabalha feito um camelo, ganha mal, mora na putaquepariu e precisa sustentar família -às vezes até mais de uma- tem a obrigação moral de deixar de comer para que o cineasta de vanguarda e a galerinha do tchiatro façam suas obras. Ora, Zé, deixe de frescura: você já nem come direito mesmo. Maltratados pela sociedade, afinal, são os gajos que cantam os mano pow e as mina pá, não você. Nem venha com esse papo.

(Seres jurássicos como eu devem se lembrar de uma cartunista chamada Ciça, que desenhava as tirinhas "O Pato" na Folha dos anos 80. A melhor que li mostrava uma adolescente conversando com a mãe. Queria sair pelo mundo, livrar-se das amarras da família, viver a vida, yadda-yadda. No último quadrinho, ela perguntava à mãe: "Você financia a minha independência?". Esse é o melhor dos mundos. Quem não quer mamar no Estado-mãe?)

Revolução com segurança total é só no caminhão da Granero.