25.9.04

Manual do perfeito perneta latino-americano

Leio suplementos infantis, como a Folhinha, sempre que me canso do excesso de infantilidade nos cadernos de política, economia e cuRtura. O problema é que, às vezes, o caderno-mirim inadvertidamente expõe a criançada a material X-rated. Hoje, por exemplo, há nele entrevista com uma integrante da Sociedade dos Observadores de Saci, aqueles pervertidos voyeurs de deficientes. Felizmente, a entrevistada não entra em detalhes sobre esse abominável vício e até fornece algumas informações bastante interessantes. A principal delas: o saci é paraguaio. Trata-se de uma criação dos guaranis (que o chamavam de çaa cy perereg) e, nesse início de carreira, era índio e tinha as duas pernas. Virou negro, perneta e brasileiro graças ao brilhante trabalho de transcriação feito pelas escravas africanas (chupa essa, Haroldão), passando a ser duplamente beneficiado pelas futuras leis de cotas.

Depois dessa revelação, revi meus conceitos. Estou plenamente disposto a lutar pelo saci contra o imperialismo do Ralouim. Ele prova, em primeiro lugar, que todos os brasileiros são paraguaios não-assumidos, guaranis no armário, índias de sangue tupi que têm o cheiro da flor (a propósito, é necessário organizar uma Parada do Orgulho Guarani, que com a presença de Perla atrairá também muitos freqüentadores da parada gay). Em segundo, está confirmado que nada simboliza melhor a identidade latino-americana do que um deficiente físico: o Mercosul pula, pula, pula numa perna só e vai largando brasa no cachimbo da vovó.

(Idéia grátis para quem quiser colocá-la em prática: a gravação de um CD-tributo ao Dia do Saci, a ser lançado em 31 de outubro. Aposto que fará tanto sucesso quanto os CDs do Roberto Carlos.)