12.11.04

Que país é esse?

No jornalismo brasileiro, Sérgio Dávila é uma espécie de Leonel Brizola reloaded, que substituiu as "perdas internacionais" pelo "neoconservadorismo da era Bush". Essas palavras explicam rigorosamente tudo o que acontece nos Euá since the puritans got a shock when they landed on Plymouth Rock, como dizia o Cole Porter. Agora há pouco, por exemplo, nosso herói assegurou que "Os Incríveis", novo filme de animação da Pixar, é uma metáfora dos imperialistas impedidos de usar seus superpoderes pela comunidade internacional, coitadinhos. Também prova que a refilmagem de "Alfie", com Jude Law no papel que foi de Michael Caine nos anos 60, vai mal nas bilheterias porque o público -isto é, os eleitores- não quer ver "um cara que sai transando por aí" (saber se o filme é bom ou não, de fato, é absolutamente secundário).

Porém, apesar de toda a sua competência, Dávila omite coisas essenciais. Ele não diz que toda a indústria norte-americana de filmes X-rated faliu, assim como as revistas pornográficas: ninguém mais no país quer ver gente que sai transando por aí. E o desemprego no mercado de prostituição já atingiu níveis alarmantes. Os bushistas tentam contra-argumentar com o altíssimo faturamento das indústrias siderúrgica e têxtil, que multiplicaram por cem a produção de cintos de castidade e lençóis com buraquinho no meio. Mas não adianta. Que país é esse em que uma pessoa não pode apertar a mão de outra sem autorização da Food and Drug Administration, sob risco de engravidar? Em que ninguém fuma com medo de pegar Aids? É tudo culpa desse feladaputa do Arbusto. Plymouth Rock should land on him.