Outra das virtudes teologais
Conhecidos e desconhecidos, mes semblables, mes frères, criticam acerbamente a hipocrisia, não obstante fazerem bom e saudável uso dela em suas relações cotidianas. Bobagem. Se aplicarmos a fórmula de La Rochefoucauld -homenagem que o vício presta à virtude-, veremos que ela pressupõe não só a certeza de que existem vícios e virtudes como a capacidade de distinguir claramente entre uns e outras. É, portanto, qualidade rara em muitos ambientes. Hipocrisia às vezes dá náuseas porque é uma das condições da civilização, aquele troço que provoca um mal-estar danado, como dizia o charlatão vienense. (Condição necessária, mas não suficiente: do contrário, bastaria os brasileiros serem como são -especialistas em sorrisinhos pela frente e cuteladas pelas costas- para que algo parecido com civilização vingasse por aqui.) Quanto a "sinceridade", "espontaneidade" e outras palavras bonitas, fico com a sabedoria de Daniel Pellizzari: "(...) A espontaneidade não consigo imaginar para que serviria, na literatura ou fora dela. Constranger os convivas, talvez". Lição preciosa, que custo a aprender: deve ser por isso que os convites para jantar têm escasseado por aqui.
P.S.: Quem se incomodar com o "charlatão vienense" pode ler "cheirador do Império Austro-Húngaro" ou "tarado da Morávia".
P.S.: Quem se incomodar com o "charlatão vienense" pode ler "cheirador do Império Austro-Húngaro" ou "tarado da Morávia".
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