23.3.05

Troque seu bichano por uma criança pobre

A esta altura, os leitores já devem saber que o verdadeiro teste da farinha para fazer parte dos Wunderblogs é gostar de gatos. Também eu os aprecio deveras, como ingredientes indispensáveis do churrasquinho grego de cada dia (refeição compreta, incluindo suco com doença de Chagas ou leptospirose, à sua escolha, por R$ 1,30 aqui no centro de São Paulo). Penso até em criar felinos para o abate -que é, vocês convirão comigo, um destino muito menos horripilante do que virar musical do Andrew Lloyd Webber.

Almas sensíveis certamente perguntarão: por que não destinar a uma criança pobre o dinheiro gasto com esses gatos, bando de burgueses viadinhos? O chato é que, se isso acontecesse, blogueiros encheriam suas páginas com fotos de crianças pobres muito fofinhas e cute-cute, multiplicando por mil o número de Sebastiões Salgados. Cruz-credo, deusmelivre, tesconjuro. E criá-las para o abate está inteiramente fora de cogitação: ao contrário do que dizia Jonathan Swift, o investimento não compensa. Carne de criança pobre é magrinha demais para o churrasco grego.