12.3.05

Vá ao cinema, mas não me chame

O post é extemporâneo, mas vamos lá. A única coisa realmente divertida do Oscar é o pancake no rosto do Rubens Ewald Filho, mas admito que, sempre que a cerimônia se aproxima, corro para ver os indicados a melhor filme de 70 anos atrás. Ótima ocasião para fugir dos filmecos-que-todo-mundo-está-vendo e rever aquele DVD de "It Happened One Night", que garfou os principais homenzinhos dourados de 1935 -filme, ator (Clark Gable), atriz (Claudette Colbert) e diretor (Frank Capra, velho batuta). É bom ser inatual, usar o bigodinho de Mr. Gable, mesmo imaginário, e dizer frankly, my dear, I don't give a damn a tudo isso que está aí. Contemporaneidade é palavra feia e, cá entre nós, meio gay.

Mas também já fui brasileiro, moreno como vocês: ponteei viola, guiei forde, até discuti em mesinha de bar filmes que não recendiam a naftalina. E ai de mim. Hoje, quando me dizem que Mike Nichols voltou a fazer filmes decentes, acho difícil que o sujeito que dirigiu essa coisa inominável que é "Uma Secretária de Futuro" fique de quatro e consiga se levantar depois. (Claro que, para muitos diretores, permanecer de quatro não é problema. Pasolini que o diga, bi. Mas isso não vem ao caso.) Na dúvida, opto por não ver; prefiro investir a grana do ingresso em cappuccinos.

Em suma, a experiência me diz que 30 anos depois de um filme ser lançado -tempo que levei, por exemplo, para ver "F for Fake", do Fat Man- é um prazo razoável para ir vê-lo. Quem sabe eu vá ver "Closer" em 2035, se o cinema não tiver morrido até lá. Há muitos cineastas tentando matá-lo: são teimosos, um dia vão conseguir.