31.8.05

Bentinho e o silêncio dos inocentes

Agradeço ao Janer Cristaldo pela graça alcançada. Estou pronto para entregar ao burro-sem-rabo toda a minha coleção de Machadinhos porque, tendo morrido 25 anos depois de Carlos Marques, ele não dedicou uma mísera linha à condenação do comunismo em seus romances e contos. Vão de roldão Huysmans e Henry James, outros dois que fizeram boca-de-siri, preferindo escrever sobre sodomitas decadentes e mocinhas americanas abonadas no Velho Mundo. Todos coniventes, sujeitos que calaram e consentiram: fizeram de propósito, por saber que só assim seriam louvados pelos acadêmicos de um século depois (de fato, mesmo retroativamente, qualquer pessoa decente devia se esfregar com palha de aço depois de ser elogiada por Roberto Schwarz). Nenhum deles se compara ao doidjão Qorpo-Santo, que, além de prever a maré vermelha, ainda possuía a excelsa virtude de ser gaúcho -capaz de anular tanto sua monumental chatice quanto o fato de ser, ele mesmo, uma invenção de acadêmicos.

Mesmo triste pela implosão das ilusões, fico feliz em perceber que Cristaldo aprendeu a usar o Gúgol e checou direitinho a data da morte de Marques (1883). Ele ainda não sabe fazer contas: seu artigo ensina que 1883 + 24 = 1917 e informa que da morte de Qorpo-Santo, em 1883, à de Machado, em 1908, 15 anos se passaram. Em compensação, já não puxa a orelha de santo Agostinho por não ter criticado a Inquisição. É um progresso.