21.3.02

PERÉIO É A CARA DO CINEMA BRASILEIRO

Eu adoraria ter sido roteirista de filme nacional nos anos 70/80. Quem assiste ao Canal Brasil percebe: os caras só recebiam dinheiro da Embrafilme se renunciassem, no contrato, a toda pretensão de originalidade. Se alguém fizesse um estudo, constataria que 85% dos filmes dessa época têm pelo menos uma fala do tipo "eu te amo, porra!" (com o palavrão sabiamente empregado para dar um toque "transgressivo" à coisa).

Outro dia, eu e alguns amigos, zapeando, topamos com um desses filmes. Na cena, os personagens de Daniel Filho, Marieta Severo e Paulo César Peréio discutiam. Sem nunca ter visto o filme, eu previ: "Um deles vai mandar os outros à merda". Dez segundos depois, era exatamente isso o que o Daniel Filho fazia. Continuei com minhas previsões: "Agora, o Peréio vai encher a boca para dizer 'filho da puta'". Errei, mas apenas de personagem -quem fez isso foi a Marieta Severo. Para finalizar a cena, como diria o Zé Simão, só faltou mostrarem o Jofre Soares pelado.

Mas o Peréio, com aquela eterna cara de pudim de cachaça, é sensacional. Se eu fizer um filme, quero chamá-lo para uma cena só: ele olhando para a câmera e dizendo "porra". Será, em dois segundos, a síntese de cem anos de cinema nacional.