21.10.02

UM GOIABA NO DIVÃ

Já que hoje meu blog ostenta uma foto do Fróide, farei uma auto-análise em público. Confesso a vocês que minha aversão aos acontecimentos se originou de um trauma, e esse trauma tem nome -o Abominável Tancredo das Neves. A coisa deu-se assim: eu, goiaba adolescente, assistia compenetradíssimo a um episódio do Kojak que estava muito próximo do seu desfecho. Eis que aparecem o então porta-voz Antônio Britto e sua barba lamentando informar que o presidente etc. etc. O anúncio da morte de Tancredo foi, salvo engano meu, seguido pela teratológica aparição da Fafá de Belém cantando o hino. E eles se esqueceram do desfecho do Kojak! Nunca, mas nunca mesmo, pude saber como terminava aquele episódio. Cheguei a sonhar com Telly Savalas, Tancredo e uma Fafá de Belém barbada, tudo ao mesmo tempo (não me lembro do que eles faziam no sonho, mas acho que era uma depravação só. Tinha também uns anões daquele filme com a Adele Fátima, cobertos de Chantibon).

Desde então meu ódio aos "acontecimentos" só fez recrudescer (o que não impede, é claro, que eu seja jornalista: o barbudão vienense talvez explique isso). Vivemos num mundo em que os valores estão todos invertidos. A morte de um presidente é mais importante do que os minutos finais de um bom seriado -e, hoje, todos se dedicam a discussões eleitorais em vez de ficar em casa, encher a cara de Fogo Paulista e ouvir Lindomar Castilho, o que é muitíssimo mais razoável. Contra essa moral de ponta-cabeça e essa escravização pelos fatos é que meu blog se insurge (putz, falei bonito). Como diria o Chapolim, sigam-me os bons.