11.4.03

UM VIVA PARA O REI DOS CHATOS

Uma pequena nota no blog do meu caro Alexandre trouxe à tona um assunto que, para mim, é um daqueles grandes enigmas da humanidade: para que serve Arnaldo Jabor? Sempre achei que ele comprovasse aquela história de que a existência precede a essência. Podemos tropeçar em Jabor na rua, ficar entediados com seus filmes, mudar de canal quando ele aparece; tudo isso são provas, a meu ver irrefutáveis, de sua existência (hélas pour nous). Mas qual seria a essência de alguém que tenta ser cronista e não consegue, tenta ser cineasta e -Deus é pai!- também não consegue, tenta ser Paulo Francis e não vai conseguir nunca?

Súbito, tive um daqueles momentos de epifania intelectual e atinei com a verdade, em toda a sua luz: assim como certas pessoas parecem ter nascido dotadas de talento para escrever, jogar futebol ou cozinhar, Jabor veio ao mundo para ser chato. É um virtuose da chatice, um Andrés Segovia do pé-no-saco, um Paganini da pentelhação. Eis aí a sua essência. E eu acho, sem ironia, que nosso herói tem direito a ser muitíssimo bem remunerado por isso, já que sua chatice torna todo o mundo em volta, por contraste, um lugar muito mais habitável. Jabor é o bode na nossa sala. Que os deuses o conservem assim.