1.9.03

INVEJA DO ROQUENROL

Confesso a vocês: assim como Piza na Bola odeia a religião porque ninguém faz o sinal-da-forca antes de entrar numa igreja, eu odiava o roquenrol por ser absolutamente incapaz de tocar algum instrumento (fiquem tranqüilos: não citarei aqui aquela piadinha do "só toco órgão", embora isso seja verdade). Ora -direis-, até aí, 90% dos roqueiros também são incapazes; no entanto, é assim que eles ganham a vida e um monte de mulé, com um desperdício neuronal mínimo. Só que eu estou alguns graus acima na escala Richter da inabilidade instrumental: nem o riff de "Louie, Louie" ("dã-dã-dã, dã-dã, dã-dã-dã, dã-dã...") eu sei reproduzir.

Contudo, admito que o roque é a música mais democrática que há. Como dizia Paulo Francis, nem é preciso ser animal vertebrado para produzi-lo. Assim, até goiabas podem fazer roquenrol -e eu adoraria ter sido um destes superastros: 1) Bez, aquele integrante dos Happy Mondays -grupo inglês da virada dos anos 80 para os 90- que não tocava instrumento algum. Ficava chacoalhando no palco e, segundo a banda, era responsável pelas "vibrações". 2) O cara que tocava, com dois dedos, o órgão (hum...) em "96 Tears", clássico obscuro de ? and the Mysterians -o nome da música e o do grupo estão entre meus preferidos- e o mais improvável primeiro lugar na parada da Billboard (em 1966, mesmo ano de "Wild Thing" e "Strangers in the Night"). 3) O sujeito responsável por gritar "science!" em "She Blinded Me With Science" , do Thomas Dolby (pois é, ninguém passou pelos anos 80 impunemente).