REMINISCÊNCIAS GOIABAIS (1)
Em 1985 descobri a política como freak show (minha opinião, 18 anos depois, é essencialmente a mesma). Esse foi o ano das primeiras eleições diretas para a prefeitura de São Paulo desde a década de 60. Melhor: na TV, foi a primeira propaganda eleitoral sem as restrições da Lei Falcão, aquela que só permitia a exibição de fotos dos candidatos, com uma locução "off". Bastou o primeiro horário gratuito para que todos sentissem saudade dessa lei.
Eu tinha 15 anos e ainda não podia cumprir o dever cívico de corroborar aquele teatrinho, mas me divertia à grande com o horário eleitoral. Havia os candidatos que despontaram para o anonimato, como Ruy Côdo e Antônio Carlos Fernandes (esse, se não me engano, apareceu na capa da "Veja em São Paulo" dizendo ser o pior vereador da cidade -recorde, certamente, já superado inúmeras vezes). Havia Pedro Geraldo Costa, o poeta do TRE, que gostava de falar tudo rimado -"uma flor no peito, Pedro para prefeito"-, mas, prudentemente, evitava rimas com seu sobrenome. Havia Armando Corrêa, o candidato dos "explorados". E havia, sobretudo, Rivailde Ovídio. Ele aparecia em close na tela, de óculos e orelhas de abano, gritando "onde está você, Franco Montoro [então governador]?". Em outro trecho da propaganda, Ovídio fazia gestos de desprezo em direção ao Palácio dos Bandeirantes. Inesquecível. É claro que, na eleição simulada feita por meu colégio, eu e meus amigos sufragamos Rivailde Ovídio.
Os eleitores paulistanos, na época, preferiram o freak profissional Jânio Quadros, que superou Efe Agá e Supla pai (apesar do engenhoso uso de uma tartaruguinha e uma lebre de brinquedo, por parte do último, num dos debates). Eu mesmo quase votei nele no simulado -perto da minha casa, alguns cartazes de Jânio asseguravam que ele era um candidato "experiente e suruba". Pensei "nossa! O velhinho, além de chegado na manguaça, é pornógrafo assumido! Merece meu voto". Fiquei decepcionado quando soube que "suruba", na época dos paleolíticos assessores de Jânio, era sinônimo de "batuta", "supimpa" ou algo assim. Poucos anos depois, Maquiavel e seu livro pornográfico me fizeram compreender que a polititica era assim mesmo.
Em 1985 descobri a política como freak show (minha opinião, 18 anos depois, é essencialmente a mesma). Esse foi o ano das primeiras eleições diretas para a prefeitura de São Paulo desde a década de 60. Melhor: na TV, foi a primeira propaganda eleitoral sem as restrições da Lei Falcão, aquela que só permitia a exibição de fotos dos candidatos, com uma locução "off". Bastou o primeiro horário gratuito para que todos sentissem saudade dessa lei.
Eu tinha 15 anos e ainda não podia cumprir o dever cívico de corroborar aquele teatrinho, mas me divertia à grande com o horário eleitoral. Havia os candidatos que despontaram para o anonimato, como Ruy Côdo e Antônio Carlos Fernandes (esse, se não me engano, apareceu na capa da "Veja em São Paulo" dizendo ser o pior vereador da cidade -recorde, certamente, já superado inúmeras vezes). Havia Pedro Geraldo Costa, o poeta do TRE, que gostava de falar tudo rimado -"uma flor no peito, Pedro para prefeito"-, mas, prudentemente, evitava rimas com seu sobrenome. Havia Armando Corrêa, o candidato dos "explorados". E havia, sobretudo, Rivailde Ovídio. Ele aparecia em close na tela, de óculos e orelhas de abano, gritando "onde está você, Franco Montoro [então governador]?". Em outro trecho da propaganda, Ovídio fazia gestos de desprezo em direção ao Palácio dos Bandeirantes. Inesquecível. É claro que, na eleição simulada feita por meu colégio, eu e meus amigos sufragamos Rivailde Ovídio.
Os eleitores paulistanos, na época, preferiram o freak profissional Jânio Quadros, que superou Efe Agá e Supla pai (apesar do engenhoso uso de uma tartaruguinha e uma lebre de brinquedo, por parte do último, num dos debates). Eu mesmo quase votei nele no simulado -perto da minha casa, alguns cartazes de Jânio asseguravam que ele era um candidato "experiente e suruba". Pensei "nossa! O velhinho, além de chegado na manguaça, é pornógrafo assumido! Merece meu voto". Fiquei decepcionado quando soube que "suruba", na época dos paleolíticos assessores de Jânio, era sinônimo de "batuta", "supimpa" ou algo assim. Poucos anos depois, Maquiavel e seu livro pornográfico me fizeram compreender que a polititica era assim mesmo.
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