8.8.05

Goiaba Jazz Gallery

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Mais um exemplo de gente que precisou mudar de nome para ser jazzista? Pois não. Esse senhor aí da foto, Paul Emil Breitenfeld (1924-1977), transformou-se em Paul Desmond, o homem que tentava -e conseguia- fazer seu sax alto soar como um dry martini. Desmond ficou famoso como saxofonista do Dave Brubeck Quartet (no qual tocava desde a Guerra da Criméia, segundo ele mesmo escreveu na contracapa de um de seus LPs) e, sobretudo, como autor de um dos temas mais facilmente reconhecíveis do jazz, "Take Five" (clique aqui para ouvir uma amostra no site "All Music Guide"). Seus discos solo, menos conhecidos, também são excelentes. Afinal, esse é o instrumentista que Charlie Parker apontava como seu "alto player" favorito -no small compliment.

Há muitas histórias boas sobre Desmond, o "homem mais solitário do mundo", nas palavras do crítico, versionista de bossa nova e biógrafo pouco confiável Gene Lees. Conta-se que começou a escrever, mas não chegou a publicar, as memórias de seu período com Brubeck, cujo título era inspirado por uma pergunta feita freqüentemente por aeromoças ("How Many of You Are There in the Quartet?"). Diz-se que, nas apresentações ao vivo de "Take Five", o saxofonista saía do palco e ia ler um livro durante o solo de bateria de Joe Morello. Sobre o fato de ter sido solteiro quase toda a vida, ele respondia parafraseando Eliot: "Sometimes [women] go around with guys who are scuffling -for a while. But usually they end up marrying some cat with a factory. This is the way the world ends, not with a whim but a banker". Quando, pouco antes de sua morte -três maços de cigarro diários se transformaram num câncer do pulmão-, Charles Mingus foi visitá-lo, usando uma capa negra, Desmond achou que ele lembrava o personagem da Morte em "O Sétimo Selo". Sorriu e disse: "OK, set up the chess board".

Para além de todas essas histórias, claro, há a música. Foi dificílimo fazer uma seleção, mas optei por duas músicas extraídas de discos solo de Desmond, sem o Dave Brubeck Quartet. A primeira é uma linda versão with strings de "My Funny Valentine", que está no disco "Desmond Blue" (1961), fortemente inspirado pelas gravações de Charlie Parker com orquestra de cordas. A segunda é "Hi-Lili, Hi-Lo" -aquela mesma do filme com Leslie Caron-, de "Glad to Be Unhappy" (LP de 1965 que tem por subtítulo "torch songs 'sung' by sax"), com Jim Hall na guitarra. Enjoy.