22.7.05

Orson Welles explica a Nouvelle Vague

Peter Bogdanovich: "Esse hábito de fazer você mesmo a montagem você adquiriu na Europa (...). Por causa das moviolas diferentes?
Orson Welles: "Exato. Nas mesas italianas e alemãs o filme não vai na grifa, por isso é totalmente silencioso. Não me preocupo mais com sala de projeção. Vou direto das filmagens para a moviola."
PB: "Alemã ou italiana..."
OW: "Certo, mas nunca francesa. A deles combina o que há de pior em todos os sistemas. Numa moviola francesa, é praticamente impossível parar com precisão num espaço de quinze quadros -o que talvez responda pela novidade estilística da Nouvelle Vague."
PB: "Moviolas ruins!"

Se bem me lembro, já disse e volto a dizer: leiam o livro de entrevistas que o também cineasta Bogdanovich fez com o Fat Man. Tem muita coisa interessante e divertida. Por exemplo, o elogio-com-ressalvas a Godard, apesar do que está aí em cima: "Seus dotes como diretor são enormes. Só não consigo levá-lo muito a sério como pensador -e é aí que divergimos de opinião, porque ele se leva". Ou a malhação de Antonioni: "Um dos motivos de eu me entediar tanto com [ele] -aquela coisa de achar que uma boa tomada vai ficar melhor ainda se você continuar olhando para ela. Ele lhe dá um plano aberto de alguém andando pela rua, da cabeça aos pés. E você pensa: 'Bom, ele não vai levar essa mulher até o fim da rua'. Mas leva. Aí a mulher some e você continua olhando a rua depois de ela ter sumido". E há muito mais. Vão lá.