Complexo de épico
Gosto mais de Arquíloco do que de Homero ou Hesíodo, mais de música de câmara do que de sinfonias, mais de pequenos grupos de jazz do que de big bands, mais de Truffaut do que de Griffith ou Eisenstein. Claro, admiro -às vezes, muitíssimo- todos os segundos termos dessa enumeração. Só acho que eles têm pouco a ver comigo. E não sei se, a esta altura, têm algo a ver com o mundo, o que sinceramente lamento. Pensem em Homero declamando os feitos de Aquiles trepado em um caixote no acostamento da marginal Tietê. Num congestionamento, os motoristas podem até abrir o vidro do carro para comprar amendoim, jamais para ouvi-lo cantar a cólera do filho de Peleu. Mais fácil jogarem uma lata de Coca na testa do aedo, já que ele é cego e não vai saber quem foi.
(Se não me engano, foi Novalis, aquele poeta alemão com nome de analgésico, quem escreveu sobre a diferença entre os gregos e os românticos do século 19: dos primeiros haviam sobrevivido apenas fragmentos, os segundos já escreviam em pedaços. Hoje, depois de séculos de evolução, os poeteiros pararam de escrever e babam sobre seus parangolés. É muito chato que, ao contrário da mulher de Ló, tenhamos de olhar para trás se não quisermos virar estátuas de sal. Insatisfação garantida ou seu Arquíloco de volta.)
(Se não me engano, foi Novalis, aquele poeta alemão com nome de analgésico, quem escreveu sobre a diferença entre os gregos e os românticos do século 19: dos primeiros haviam sobrevivido apenas fragmentos, os segundos já escreviam em pedaços. Hoje, depois de séculos de evolução, os poeteiros pararam de escrever e babam sobre seus parangolés. É muito chato que, ao contrário da mulher de Ló, tenhamos de olhar para trás se não quisermos virar estátuas de sal. Insatisfação garantida ou seu Arquíloco de volta.)
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