Idéia para uma charge dantesca
Seu Virgílio é o ascensorista de uma grande loja de departamentos. Quem o conhece assegura que é o homem mais paciente do mundo. Nenhum outro agüentaria fazer o mesmo trabalho por milênios, dizendo sempre as mesmas coisas naquela voz monocórdia: "Segundo andar, luxuriosos. Quarto andar, avaros, pródigos. Quinto andar, iracundos. Sexto andar, heréticos. Sétimo andar, tiranos, assassinos, salteadores, suicidas, dissipadores, blasfemos, sodomitas, usurários. Oitavo andar, sedutores, aduladores, simoníacos, mágicos, adivinhos e embusteiros similares, corruptos e prevaricadores, hipócritas, semeadores de ódios, divisões e discórdias, falsários. Nono andar, traidores do sangue, da pátria, dos amigos, dos benfeitores". Como se vê, a loja é pessimamente planejada: a primeira pergunta dos clientes é "Quem foi o arquiteto dos infernos que fez isto?", normalmente seguida por uma resposta do tipo "Sei não, mas acho que é coisa do Niemeyer". Nada disso incomoda nosso ascensorista. Tampouco o fato de o elevador estar sempre lotado de gente fazendo séquiço, matando a si mesma e aos outros, queimando dinheiro ou emprestando a juros obscenos, praticando a alquimia, tendo ataques apopléticos, xingando Deus etc. Seu Virgílio, imperturbável no uniforme made in Mântua, não está nem aí. Afinal, ele sabe que a eternidade é assim mesmo, eternamente.
(Outra charge. Pequeno diálogo entre seu Virgílio e um ocupante do elevador: "Nossa, que roupa bonita essa sua! Muito chique, mas muito mesmo. Sabe que meu sonho sempre foi ser ascensorista? Juro, acho uma profissão linda." "Oitavo andar, pode descer.")
(Outra charge. Pequeno diálogo entre seu Virgílio e um ocupante do elevador: "Nossa, que roupa bonita essa sua! Muito chique, mas muito mesmo. Sabe que meu sonho sempre foi ser ascensorista? Juro, acho uma profissão linda." "Oitavo andar, pode descer.")
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