Futilidade, civilização
Eu ando pelas ruas da minha cidade e penso no João da Ega d'"Os Maias". Vocês se lembram do que ele dizia sobre o Portugal do século retrasado, não? Eis: "A civilização custa-nos caríssima com os direitos da alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas". No Bananão de hoje, basta sair à rua para observar o desconforto das pessoas com a civilização: ou ela comprime os testículos ou deixa de fora pelo menos metade do rego. Não é um bonito espetáculo, senhoras e senhores. Penso também no que Valéry, ser insuportavelmente razoável, escreveu em "Tel Quel": "Les pensées, les émotions toutes nues sont aussi faibles que les hommes tout nus. Il faut donc les vêtir". Do lado de baixo do Equador é o contrário: aqui nenhuma idéia vinga se não estiver de tanga, e nosso órgão pensante é aquilo que Joãozinho Trinta chamava de "genitália desnuda". Inversamente, quem é metido a intelectual -ou seja, sai por aí mostrando que tem um cérebro- vai logo preso por atentado violento ao pudor. E não há nem sequer um Caminha para elogiar suas vergonhas saradinhas.
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