5.6.02

MAIS AFINIDADES ELETIVAS

A Distie, dona do Quatro Mãos e Um Teclado, faz com que eu me sinta menos só nas minhas idiossincrasias literárias. Por exemplo, a moça aprecia, como eu, os epigramas do romano Marco Valério Marcial (40-104 d.C.) e as máximas do francês La Rochefoucauld (1613-1680) (com todo esse bom gosto, não entendo como ela ainda lê o puragoiaba, mas deixa pra lá).

O primeiro deles é um dos principais nomes de um período da literatura latina que é visto, hoje, como "decadente" na comparação com o período anterior, no qual se destacaram Horácio e Virgílio. Grande injustiça, na minha opinião: tanto Petrônio, já citado neste blog (lá atrás), quanto Sêneca, para citar apenas dois exemplos, batiam um bolão na mesma época. Marcial era especialista em epigramas satíricos, como o que transcrevo abaixo (tradução de José Dejalma Dezotti):

Aqui lês dois versos bons, três passáveis, mil ruins.
Não há outro modo, Avito: um livro se faz assim.


Quanto ao segundo, tudo o que eu queria era me chamar François Sixième de la Rochefoucauld e viver na corte de Luís 14, fazendo comentários sarcásticos sobre a vaidade dos homens, de olho comprido nos decotes das madames e usando aquelas perucas empoeiradas. Deixo aqui uma das máximas dele ("nous avons tous assez de force pour supporter les maux d'autrui"), que foi muito bem adaptada para o português pelo Machado de Assis ("suporta-se com paciência a cólica alheia").