23.11.02

MINERAÇÃO DO OU(T)RO

Estou lendo "Coração Partido" (Cosac & Naify), livro em que o professor e crítico literário Davi Arrigucci Jr. analisa quatro poemas de Drummond ("Poema de Sete Faces", "No Meio do Caminho", "Áporo" e "Mineração do Outro"). Hoje, Arrigucci é talvez o melhor leitor e "explicador" de poesia no país, capaz até de lançar novas luzes sobre peças conhecidíssimas como os dois primeiros poemas (eu mesmo comecei a me interessar por poesia depois de ler sua análise de "Maçã", do Manuel Bandeira. My God, lá se vão mais de quinze anos). Você pode ler aqui "Mineração do Outro" e, na seqüência, os comentários de Arrigucci.

Gosto muito desse poema, que começa tentando escavar/decifrar o sentimento amoroso e termina sem decifração nenhuma, com um decassílabo lindamente barroco ("arder a salamandra em chama fria"). Mas só há pouquíssimo tempo percebi o trocadilho, óbvio desde o título, com a expressão "mineração do ouro". Pensei comigo: bem, essa é toda a diferença entre o Drummond e os concretinos. Para um integrante desse segundo grupo, só o título seria mais que suficiente como poema -talvez com parênteses, para dar um ar mais vanguardista: mineração do ou(t)ro.