16.7.03

DO ANAUÊ AO BADAUÊ

Devo confessar que o reacionarismo é tão confortável em mim quanto aqueles suspensórios no Nelson Rodrigues. Porém, como eu vivo cercado de amigos bacanas e progressistas que um dia podem acordar de mau humor e me mandar ao paredón, digo em minha defesa: senhores, a evolução existe. Vejam, eu tinha um avô salazarista e outro integralista: até hoje guardo deste último, com carinho, o livro "A Cozinha Maravilhosa de Plínio Salgado e Suas Mil e Uma Receitas de Arroz Integralista". Mas o fato é que, entre a geração deles e a minha, as coisas mudaram -eu, por exemplo, até consigo ouvir a palavra "democracia" sem que meu estômago dê cambalhotas. (OK, nem sempre.) Se a evolução mantiver esse ritmo, prevejo, com segurança, que meus bisnetos serão algo parecido com Fernando Gabeira sob efeito constante de estupefacientes. Mas até lá, felizmente, estarei morto. (E, pensando bem, Brás Cubas tinha razão sobre "o legado da nossa miséria".)

P.S. para exegetas: Este post contém duas citações fundamentais para a compreensão do estilo do autor. O quase-final, antes do parêntese, foi surrupiado do poema "O Sobrevivente", de Carlos Drummond de Andrade. E o título é inspirado na obra-prima "Shake Boom", de Vinny ("vem pro badauê-êêê...").