23.1.04

Old Plato does the hanky panky

Vejo-me, cada vez mais, obrigado a rever meus conceitos sobre o roquenrol. Confesso que chego a ter vergonha do tempo em que eu achava que o gênero fosse música pobre feita para gente burra. De uns tempos para cá, descobri o que chamaria de "fundamentos metafísicos do roque" -e todo um novo continente se descortinou para mim. Percebi, por exemplo, como a letra de "Hanky Panky", de Jeff Barry e Ellie Greenwich -sucesso de Tommy James and the Shondells nos anos 60-, foi rigorosamente construída de acordo com a metafísica dos números de Pitágoras, tal qual ela é exposta pelo grande filósofo Mário Ferreira dos Santos em seu "A Sabedoria das Leis Eternas" (há uma brevíssima biografia desse autor aqui). Reproduzo abaixo a letra para que vocês sigam meu raciocínio.

My baby does the hanky panky
My baby does the hanky panky
My baby does the hanky panky
My baby does the hanky panky
My baby does the hanky panky

I saw you walkin' on down the line
You know I saw you for the very first time
A pretty little thing standin' all alone
Hey, pretty baby, can I take you home?
I never saw ya, never ever saw ya


Parece simples, não? Três acordes, talvez dois, e uma letra aparentemente estúpida. Nada disso -vocês é que não são capazes de ver a alta metafísica que há nela. Temos que 1, o número da unidade do ser, está expresso em "my baby does the hanky". Como não é possível unidade sem oposição, não faz sentido que o "hanky" exista sem o "panky" -e aqui já temos o 2. 3 é o número das relações intrínsecas entre os opostos; 4, o da reciprocidade; 5, o da forma, ou da lei que rege essa reciprocidade. E chegamos ao quinto verso, que reitera a beleza filosófica dessa assertiva: "my baby does the hanky panky" não apenas uma, mas cinco vezes. (Uau.)

A canção tem mais cinco versos -e quem a conhece sabe que seu compasso permitiria incluir pelo menos mais um verso no final de cada estrofe. Então, por que os autores escolheram deixá-la exatamente com dez versos? Precisamente porque há dez leis pitagóricas, e a décima é a da unidade transcendente. Notem como o décimo verso -"I never saw ya, never ever saw ya"- expressa isso: o nunca visto, o que está além, a própria metafísica. O que temos aí, senhores, é um tratado filosófico em apenas três acordes.

Enfim, roquenrol não precisa mais ser um "guilty pleasure". Se você é um intelequitual, faça como Olivia Newton-John. Let's get metaphysical -let me into your Plato talk, Plato talk....