A arte do jornalismo esotérico
Jornalismo ruim é uma arte. Sobretudo quando transforma notícias que deveriam ser compreensíveis em rituais esotéricos -os quais requerem iniciação- ou obras abertas -que o leitor interpreta como quiser. Existe toda uma beleza nisso: às favas com aquele negócio de objetividade, o quê-quem-como-onde-quando-por quê, essas caretices pré-modernas. O bom jornalismo ruim está por toda parte, mas seus exemplos mais eloqüentes costumam aparecer, creio, nos cadernos culturais e nos econômicos.
Evito ler as seções de cuRtura porque me sinto constantemente humilhado pela overdose de goiabice que elas contêm. Mas, às vezes, a gente se depara com coisas interessantes, como uma reportagem sobre o artista plástico Nerbal Xampu que começava assim: "Xampu é contra exposições, contra a dominação intelectual, contra a lógica perversa do mercado". Achei que fosse ler, logo em seguida, algo como "Nerbal Xampu é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol, meu iaiá, meu ioiô. Vote em Nerbal pra vereadô". Não li, mas também não encontrei nada que explicasse que cazzo eram a "dominação" e a "lógica perversa". Disso deduzo que os autistas plastas (expressão da Letícia) são todos tarados e chegados a uma dominação perversa; num eventual encontro com um deles, não devemos desgrudar a bunda da parede -exceto Nerbal Xampu, que é sujeito de família e não transa essas coisas.
Hoje mesmo um jornal trouxe um exemplo de ótimo jornalismo econômico ruim: no título, a frase "'Número dois' do BofA deixa cargo em junho", acompanhada pela linha-fina (acima do título) "McQuade pediu demissão". Entendi que o McQuade em questão é o Lobo Solitário e que a menção ao "BofA" corrobora aquilo de que eu desconfiava havia tempos: hmmm, Chuck Norris camufla, hmmm, Braddock solicita. Vocês acham que estou errado?
Evito ler as seções de cuRtura porque me sinto constantemente humilhado pela overdose de goiabice que elas contêm. Mas, às vezes, a gente se depara com coisas interessantes, como uma reportagem sobre o artista plástico Nerbal Xampu que começava assim: "Xampu é contra exposições, contra a dominação intelectual, contra a lógica perversa do mercado". Achei que fosse ler, logo em seguida, algo como "Nerbal Xampu é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol, meu iaiá, meu ioiô. Vote em Nerbal pra vereadô". Não li, mas também não encontrei nada que explicasse que cazzo eram a "dominação" e a "lógica perversa". Disso deduzo que os autistas plastas (expressão da Letícia) são todos tarados e chegados a uma dominação perversa; num eventual encontro com um deles, não devemos desgrudar a bunda da parede -exceto Nerbal Xampu, que é sujeito de família e não transa essas coisas.
Hoje mesmo um jornal trouxe um exemplo de ótimo jornalismo econômico ruim: no título, a frase "'Número dois' do BofA deixa cargo em junho", acompanhada pela linha-fina (acima do título) "McQuade pediu demissão". Entendi que o McQuade em questão é o Lobo Solitário e que a menção ao "BofA" corrobora aquilo de que eu desconfiava havia tempos: hmmm, Chuck Norris camufla, hmmm, Braddock solicita. Vocês acham que estou errado?
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