31.5.04

Este post não tem título

Lá no Ataturk, faço parte de uma comunidade chamada "Não Vi e Não Gostei", cujos integrantes, à semelhança do velho canibal Oswald de Andrade, dedicam-se ao saudável esporte de falar mal das coisas que não viram. Mas é claro que nenhum de nós precisa ver, ler ou ouvir alguma coisa para gostar dela: basta fazer como 101% dos leitores de jornal e levar em conta apenas os títulos.

Nelson Rodrigues, o tarado de pijama, já dizia que nem era preciso entrar no cinema para gostar de um filme chamado "De Amor Também Se Morre" (cujo título original é, aliás, bastante sem graça: "The Constant Nymph"). Passemos à música: você pode não apreciar jazz e nunca ter ouvido falar de Charles Mingus, mas há de convir comigo que um disco que lista na contracapa nomes como "Don't Be Afraid, the Clown's Afraid Too" e "The Shoes of the Fisherman's Wife Are Some Jiveass Slippers" não pode ser ruim.

De minha parte, posso dizer que jamais perdoarei Dostoiévski por ter dado a um de seus livros o nome de "Humilhados e Ofendidos". Saibam que só não escrevi um romance porque o título tinha de ser esse que o russo neurastênico roubou de mim. Mas não desisto facilmente. Minha maior ambição é superar Guimarães Rosa: lançar um livro com um nome pior que "No Urubuquaquá, No Pinhém", o título mais feio do mundo em todos os tempos (aposto que, porque Rosa era "gênio", nenhum editor quis desestimulá-lo. Deveriam ter perguntado se na bundinha dele não ia nonada).