17.5.05

Pequena antologia goiabal

Jorge de Lima (1893-1953)

Este é o marinho e primitivo galo
de penas reais em concha e tartaruga.
Com seu concerto afônico me embalo,
turva-se o vento, o Pélago se enruga.

Silencioso clarim, mudo badalo,
dos ruídos e ecos rápido se enxuga.
Jorra o canto sem voz de seu gargalo
e se encrespa no oceano em onda e ruga.

Galo sem Pedro, em pedra vivo galo,
de córneos esporões de caramujo
—tubas dos espadartes e cações.

O dia sem mistério, seu vassalo
esvai-se no seu bico imenso, em cujo
som as brasas da crista são carvões.


(Do "Livro de Sonetos", 1949.)