10.8.05

Goiaba Jazz Gallery

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Foi necessário um filme meio xaroposo com Clint Eastwood e Meryl Streep ("As Pontes de Madison", de 1995) para que algo semelhante a sucesso começasse a acontecer com Johnny Hartman (1923-1983) -um pouco tarde, 12 anos depois de sua morte. Good old Clint nem sempre acerta a mão em seus filmes, è vero, mas quando o assunto é jazz ele atira com precisão de personagem de filme do Sergio Leone. John Maurice Hartman foi um dos melhores cantores que o gênero produziu. Barítono freqüentemente comparado a Billy Eckstine, Hartman era mais suave na abordagem: restringia o uso do vozeirão ao estritamente necessário, sabia criar climas, aproveitar ao máximo as nuances e sugestões de uma letra. Interpretar, enfim. Comparações são sempre misleading, mas talvez se possa defini-lo como alguém entre Eckstine e Sinatra. Não é pouca coisa -e não é exagero.

Com todo esse talento, porém, Hartman gravou relativamente pouco em seus quase 40 anos de carreira. Começou cantando com bambas, nos années quarante: Earl Hines, Dizzy Gillespie, Erroll Garner. Mas, até o início dos anos 60, os dedos de uma mão davam e sobravam para contar seus álbums (o melhor deles é "Songs from the Heart" , de 1955, com Howard McGhee no trompete). A história mudou quando John Coltrane, já monstro-sagrado-do-jazz e querendo mostrar que sabia "tocar bonito" de modo convencional, convidou-o para um disco. O resultado foi "John Coltrane and Johnny Hartman" (1963), obra-prima nunca assaz louvada e única vez em que Coltrane e seu "classic quartet" acompanharam um cantor. Depois, Hartman se cercou de grandes músicos em outro álbum clássico, "I Just Dropped By to Say Hello" (1964, capa aí em cima) -e passou a ser tratado por gravadoras e donos de clubes como um cantor de prestígio, mas "não-comercial". Seguiram-se várias tentativas, mais ou menos bem-sucedidas, de soar "comercial" e anos depois, já perto do fim de sua vida, outro grande disco, "Once in Every Life" (1980), de onde foram extraídas quase todas as músicas das trilhas sonoras de "As Pontes de Madison".

É claro que ninguém precisa assistir ao filme para conhecer a obra de Johnny Hartman. Se você ficou interessado e quer amostras, tio Ruy faz isso para você. Clique nas notas aí embaixo para ouvir, pela ordem: 1) A melhor versão ever de "Lush Life" (bela música e letra genial, coleporteriana, de Billy Strayhorn), do disco com Coltrane. 2) "Ain't Misbehavin'", clássico de Fats Waller e Andy Razaf, que está no "Songs from the Heart". Espero que gostem. Quem quiser saber mais sobre o cantor pode clicar aqui ou aqui.











E aqui, como sempre, estão as letras, para aqueles que gostam de seguir a bolinha (epa, opa).

1.

I used to visit all the very gay places
Those come-what-may places
Where one relaxes on the axis of the wheel of life
To get the feel of life from jazz and cocktails

The girls I knew had sad and sullen gray faces
With distingué traces
That used to be there -you could see where they'd been washed away
By too many through the day twelve o'clock tales

Then you came along with your siren song
To tempt me to madness
I thought for awhile that your poignant smile
Was tinged with the sadness
Of a great love for me
Ah, yes, I was wrong
Again, I was wrong

Life is lonely again
And only last year everything seemed so sure
Now life is awful again
A trough full of hearts could only be a bore

A week in Paris could ease the bite of it
All I care is to smile in spite of it
I'll forget you, I will
While yet you are still burning inside my brain

Romance is mush stifling those who strive
I'll live a lush life in some small dive
And there I'll be while I rot with the rest
Of those whose lives are lonely too


2.

No one to walk with, all by myself
No one to talk with, I'm happy on the shelf
Ain't misbehavin', savin' my love for you

I know for certain the one I love
I'm through with flirtin', it's you I'm thinkin' of
Ain't misbehavin', savin' my love for you

Like Jack Horner, sittin' in the corner
Don't go nowhere, what do I care
Your kisses are worth waitin' for
Why don't you believe me?

I don't stay out late, don't care to go
I'm home at eight, me and my radio
Ain't misbehavin', savin' all my love for you