PICARDIAS ESTUDANTIS
Eu sou do tempo em que ainda não havia o Telecurso 3º Grau, com meia hora dedicada ao curso completo de jornalismo. Ainda bem: desse modo pude, pela única vez na vida, sentir o gostinho de ser como um cineasta e receber subsídio do Estado para coçar o saco durante alguns anos. Às vezes até assinava algumas listas de presença, o que, vocês convirão comigo, é muito mais inofensivo do que dirigir filmes com Márcio Garcia de bunda à mostra.
Cedo notei, contudo, que meus talentos para a vagabundagem não chegavam aos pés da maestria com que alguns dos meus professores exerciam a mesma prerrogativa. Recordo com especial carinho um deles, que dividia a classe em grupos no início do semestre, dava a cada grupo um tema e um livro para que preparasse um seminário e cochilava em cima da mesa durante os seis meses seguintes. Sim, era uma vida invejável -mas, bobão que sempre fui, a culpa jamais me deixou aspirar a algo semelhante.
Eu precisava, portanto, de algo para fazer. E confesso a vocês: nada foi mais importante para a minha formação do que as pesquisas sobre música folclórica estudantil, a mais elevada manifestação cultural da universidade brasileira. Como um Mário de Andrade teen, dediquei-me a compilar as melhores canções desse rico folclore. Por exemplo, esta aqui, que era usada nas recepções aos alunos da gloriosa Escola Politécnica durante competições esportivas: "Escola de viadinho/ Escola de bunda-mole/ Se é verdade que o mundo tem cu/ O cu do mundo é na Poli". Não me recordo da resposta dos politécnicos, mas tinha algo a ver com o mesmo monossílabo e as preferências sexuais dos estudantes de humanas. É claro que também havia arte engajada, como no grito de guerra "a UNE somos nós, nossa força, nossa voz" -ou, na versão mais popular, "a UNE somos nós, nossos pais, nossos avós".
Pude constatar, porém, que nada do que é produzido na universidade tem a força poética das canções folclóricas do ensino fundamental e médio, como os clássicos "jererê, jererê de LSD" e "peguei, mijei, chacoalhei, guardei/ tornei mijar, chacoalhar, guardar/ tornei guardar no mesmo lugar". É compreensível: de repente, todo mundo resolve virar adulto e começa a participar de saraus, escrever poesia concreta e desenvolver teses sobre a arte conceitual. Sim, o horror, o horror. As universidades deveriam reservar 30% dos seus orçamentos para subsidiar a bebedeira contínua de professores e alunos: os resultados seriam melhores.
Eu sou do tempo em que ainda não havia o Telecurso 3º Grau, com meia hora dedicada ao curso completo de jornalismo. Ainda bem: desse modo pude, pela única vez na vida, sentir o gostinho de ser como um cineasta e receber subsídio do Estado para coçar o saco durante alguns anos. Às vezes até assinava algumas listas de presença, o que, vocês convirão comigo, é muito mais inofensivo do que dirigir filmes com Márcio Garcia de bunda à mostra.
Cedo notei, contudo, que meus talentos para a vagabundagem não chegavam aos pés da maestria com que alguns dos meus professores exerciam a mesma prerrogativa. Recordo com especial carinho um deles, que dividia a classe em grupos no início do semestre, dava a cada grupo um tema e um livro para que preparasse um seminário e cochilava em cima da mesa durante os seis meses seguintes. Sim, era uma vida invejável -mas, bobão que sempre fui, a culpa jamais me deixou aspirar a algo semelhante.
Eu precisava, portanto, de algo para fazer. E confesso a vocês: nada foi mais importante para a minha formação do que as pesquisas sobre música folclórica estudantil, a mais elevada manifestação cultural da universidade brasileira. Como um Mário de Andrade teen, dediquei-me a compilar as melhores canções desse rico folclore. Por exemplo, esta aqui, que era usada nas recepções aos alunos da gloriosa Escola Politécnica durante competições esportivas: "Escola de viadinho/ Escola de bunda-mole/ Se é verdade que o mundo tem cu/ O cu do mundo é na Poli". Não me recordo da resposta dos politécnicos, mas tinha algo a ver com o mesmo monossílabo e as preferências sexuais dos estudantes de humanas. É claro que também havia arte engajada, como no grito de guerra "a UNE somos nós, nossa força, nossa voz" -ou, na versão mais popular, "a UNE somos nós, nossos pais, nossos avós".
Pude constatar, porém, que nada do que é produzido na universidade tem a força poética das canções folclóricas do ensino fundamental e médio, como os clássicos "jererê, jererê de LSD" e "peguei, mijei, chacoalhei, guardei/ tornei mijar, chacoalhar, guardar/ tornei guardar no mesmo lugar". É compreensível: de repente, todo mundo resolve virar adulto e começa a participar de saraus, escrever poesia concreta e desenvolver teses sobre a arte conceitual. Sim, o horror, o horror. As universidades deveriam reservar 30% dos seus orçamentos para subsidiar a bebedeira contínua de professores e alunos: os resultados seriam melhores.
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